Vista como esporte por uns e como arte por outros, a dança tem muito dos dois. O corpo é fisicamente exigido de formas bastante peculiares e incomuns a outros esportes. O bailarino precisa de equilíbrio, consciência corporal, força, estabilidade e flexibilidade para que consiga fazer os movimentos de uma forma tecnicamente correta e, para isso, precisam de uma preparação física específica.
Lesões traumáticas são pouco comuns na prática do ballet. A maior preocupação é com lesões decorrentes de movimentos torcionais, entorse do tornozelo, a lesão do ligamento Cruzado Anterior ou lesões musculares.
Lesões por sobrecarga ou esforços repetitivos são muito mais frequentes. Estão, como regra geral, associadas a uma limitação física (fraquezas musculares específicas, condicionamento físico inadequado) ou a deficiências técnicas dos gestos da dança em sí.
Entre as características mais marcantes, e que devem ser levadas em consideração no momento de se avaliar uma lesão em um dançarino, incluem-se:
- Exercícios de ponta;
- Exercícios com a perna rodada para fora (En Dehors);
- Grande amplitude de movimentos em todas as articulações;
- Idade precoce com que crianças iniciam a prática.
Risco em diferentes tipos de bailarinos
Um grande bailarino é resultado de um longo período de dedicação e entrega que, em geral, começa já nos primeiros anos de vida. A maioria dos bailarinos profissionais já gostava de se exibir em frente à TV, ao ouvir uma música ou nas festas de família quando criança. Esse gosto precoce pela dança é que leva muitos pais a procurarem escolas de ballet no bairro. A dança costuma ser a primeira atividade formal na vida de muitas crianças, sendo praticada de forma lúdica e sem maiores sobrecargas ou riscos de lesão.
O aumento no volume e intensidade dos ensaios, já a partir da pré-adolescência, faz com que as lesões se tornem uma preocupação. A dança tem como característica uma especialização bastante precoce, e é comum que crianças de 10 ou 11 anos estejam sendo submetidos a exaustivos ensaios diariamente. Saber avaliar as implicações da dança sobre um esqueleto ainda imaturo é fundamental para proteger a saúde destas pequenas bailarinas.
A fase do estirão do crescimento na adolescência é um período que envolve preocupação extra em relação às lesões por sobrecarga, devido às grandes mudanças corporais observadas nesta fase da vida. A preocupação é maior especialmente para aquelas meninas que apresentam um estirão do crescimento mais tardio, uma vez que tendem a fazer aulas junto com colegas da mesma idade, mas com desenvolvimento físico mais avançado.
Para aqueles que dançam em alta performance ou mesmo profissionalmente, o risco de lesões por sobrecarga é alto, sendo importante observar os cuidados recomendados para outros atletas profissionais.
Finalmente, a dança para pessoas na meia idade ou entre idosos torna-se um meio de se manter ativo e cuidar da saúde. A dança traz uma série de benefícios a todos os tipos físicos e faixas etárias, desde que respeitados certos cuidados fundamentais. Não é preciso corresponder à imagem dos bailarinos profissionais, de corpos extremamente magros, para tirar proveito da dança.
Devemos por fim considerar as especificidades dos bailarinos homens. Devido à predominância das mulheres na dança, muitas vezes a atenção com os homens é mais limitada. Como regra geral, professores estão muitos mais preparados para orientarem as mulheres do que os homens e isso pode fazer com que os bailarinos não tenham todo o seu potencial explorado, além de colocá-los sob maior risco de lesão.
Ballet na pré-adolescência e adolescência
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Ballet na pré-adolescência e adolescência
Ballet na pré-adolescência e adolescência
Uma das características do ballet é a idade precoce com que muitas bailarinas passam a se dedicar a ensaios exaustivos e com alta exigência física. Ao redor dos 10 anos de idade muitas destas meninas iniciam a preparação para os exercícios de ponta, para efetivamente iniciarem na ponta ao redor dos 12 ou 13 anos de idade. Este período coincide com o início da puberdade, fase da vida na qual o corpo passa por um processo de amadurecimento, com a criança se transformando em um adulto capaz de reprodução sexual. Além da maturação dos órgãos sexuais, há, também, um rápido desenvolvimento de quase qualquer órgão do corpo, incluindo o cérebro, ossos e músculos. Discutimos mais sobre isso em um artigo específico sobre Atividade física na puberdade. O crescimento ósseo acontece em uma região do osso denominada de fise, placa fisária ou placa de crescimento. Ela é formada por uma cartilagem que se torna mais espessa durante a puberdade devido à sua intensa atividade neste período. Com isso, a placa fisária torna-se também um ponto de maior fragilidade óssea. O corpo da bailarina fica maior, mais pesado, mais forte e mais rápido. Por outro lado, a coordenação dos movimentos fica prejudicada: o corpo sofre tantas transformações que a bailarina precisa reaprender a utilizá-lo. É muito comum que volte a apresentar erros técnicos que pareciam já superados. Com tudo isso, a sobrecarga sobre as articulações aumenta. A maior sobrecarga articular associada à maior fragilidade óssea faz com que as lesões se tornem cada vez mais frequentes. É fundamental que os pais questionem suas filhas com regularidade a respeito de eventuais queixas de dor e fiquem atentos a quaisquer sinais que possam sugerir que algo está errado, afinal é comum que estas bailarinas tentem esconder suas queixas e manter seus ensaios a qualquer custo. Durante a puberdade, o corpo gasta uma maior quantidade de energia para suportar todas estas transformações. Ao mesmo tempo, a preocupação das meninas com a aparência física aumenta. Bailarinas em especial muitas vezes lutam para manter uma aparência excessivamente magra às custas de dietas pouco ortodóxicas. Com isso, pode faltar energia para sustentar a prática da dança e as funções corporais como um todo, o que prejudica o desenvolvimento físico da bailarina e a coloca sob maior risco de lesões, entre elas as fraturas por estresse. Discutimos mais sobre isso no artigo sobre Deficiência energética no esporte. A puberdade nas meninas pode se iniciar entre os 9 em os 13 anos e, nos meninos, entre os 11 e os 15 anos. Assim, uma menina de 11 anos pode ter a aparência de uma mulher adulta, enquanto outra de 12 pode ter a aparência de uma criança. Isso trás grande dificuldade para a organização de ensaios de ballet, que habitualmente juntam em uma mesma classe meninas com a mesma idade, mas não necessariamente no mesmo estágio de desenvolvimento físico. Infelizmente, as aulas habitualmente são desenhadas com foco mais naquelas com maturação mais precoce do que naquelas que têm desenvolvimento físico momentaneamente mais atrasado, colocando estas últimas sob maior risco de lesão. Os efeitos da puberdade são sentidos por qualquer pessoa. Ainda assim, algumas respondem bem às mudanças e se adaptam mais rapidamente, enquanto outras sofrem mais com toda esta bagunça e precisam de mais tempo para se adaptar à nova realidade. Seja no ballet ou em qualquer outra atividade física, é importante que o atleta adolescente passe por uma avaliação com um médico do esporte com certa regularidade, para detectar e corrigir quaisquer desequilíbrios que fujam daquilo que seria esperado.Ballet adulto
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Ballet adulto
Ballet adulto
O número de mulheres e homens adultos ou mesmo idosos que procuram o ballet como exercício físico tem aumentado nos últimos anos tanto entre os que já praticaram essa modalidade previamente como para aqueles que nunca a praticaram. São vários os benefícios oferecidos pelo ballet, como condicionamento cardiovascular, postura, fortalecimento muscular, flexibilidade, agilidade, equilíbrio, coordenação motora e controle do tronco. Além disso, atua na memória, estimula a musicalidade, proporciona interação social, sendo uma ótima atividade para quem quer largar o sedentarismo e ter uma vida mais ativa e saudável. Do ponto de vista técnico, o ballet na meia idade é o mesmo praticado pelos jovens. É importante, porém, que se considere os objetivos de quem vai praticar e se tenha clareza das suas possibilidades e limites, de forma a respeitar suas condições físicas. Os benefícios do ballet não dependem da imagem clássica da bailarina com um físico extremamente magro dançando na ponta. A prática do ballet duas a três vezes por semana, sem excesso de exercícios de alongamento ou de exercícios de ponta, e respeitando o condicionamento físico individual nos exercícios de agachamento e de saltos, tende a ser bastante saudável, com baixo risco de lesões e com todos os benefícios mencionados acima. No entanto, caso o bailarino esteja buscando a alta performance ou a profissionalização, ele deve estar ciente de que o risco de lesão será maior na prática dos exercícios mais “puxados”, pois, quanto mais avançada a idade, mais frequentes são as lesões, que também são diferentes daquelas observadas em bailarinos jovens. Ao redor dos 30 anos torna-se nítida a diferença entre os bailarinos que souberam poupar músculos e articulações ao longo da carreira e aqueles que, devido a dores e lesões, perderam seguidos dias de treino e o nível de performance. Com a idade, não só no ballet, mas na vida, as lesões da cartilagem articular tornam-se cada vez mais frequentes; podem ocorrer rangidos nas articulações ou uma sensação de que se tem areia dentro do joelho, característicos da artrose; os tendões também passam a sofrer com o processo de desgaste e tornam-se mais frágeis, menos elásticos e mais vulneráveis às tendinites (tendinite patelar, tendinite de Aquiles) ou mesmo às lesões. Para aqueles que pretendem iniciar ou reiniciar a prática do ballet em idade mais avançada, desta forma, é importante que seja feita uma avaliação individualizada do ponto de vista físico, e que a atividade respeite tanto o condicionamento físico como os objetivos individuais com a dança.Ballet para Homens
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Ballet para Homens
Ballet para homens
O homem no ballet, infelizmente, ainda é um tabu na sociedade devido ao preconceito. Esse fato faz com que o número de bailarinos homens seja muito menor do que o de mulheres, e a falta de homens no mercado faz com que as companhias busquem desesperadamente por eles, ao contrário do que ocorre com as mulheres, que comparecem sempre em grande número nas audições. Muitos iniciam a dança tardiamente, já com vistas em uma atividade profissional, e não passam pelo longo processo de formação ao qual são submetidas a maior parte das bailarinas mulheres. A falta de bailarinos homens faz também com que eles tenham que desempenhar diferentes funções durante a prática e repetir os mesmos exercícios com diversas parceiras, principalmente em trabalhos coletivos, sendo desta forma ainda mais sobrecarregados. Habitualmente, espera-se do bailarino homem requisitos atléticos mais rígidos, enquanto as demandas sobre as mulheres estão mais frequentemente relacionadas com requisitos técnicos. Além disso, existem gestos técnicos típicos das mulheres (ponta, dehors forçados) ou dos homens (portées, saltos mais frequentes e intensos). Devido a estas diferenças, as exigências corporais também são diferentes: o homem realiza muito mais esforço com o tronco e membros superiores quando comparado às mulheres. O impacto das aterrisagens de saltos também preocupa mais. Essas exigências especificas também demandam preparo físico específico, mas o fato da presença da mulher no ballet ser muito mais marcante faz com que a rotina dos ensaios seja na maior parte das vezes direcionada para elas, deixando a preparação física focada no tronco e principalmente nos membros superiores em segundo plano. Muitas vezes isso se resume a flexões de braços e algumas pontes durante um ensaio ou outro, por conta própria e sem orientação profissional adequada, o que muitas vezes acaba por ser um estresse muscular mais negativo do que positivo. Por fim, professores também são menos capacitados a avaliarem erros técnicos em sustentações e levantamentos realizados pelos bailarinos, gerando sobrecarga. A avaliação do movimento com o bailarino pode, desta forma, auxiliar na correção de deficiências e desequilíbrios musculares e contribuir para o alívio de sintomas. Idealmente, os bailarinos homens deveriam ter um momento específico para o fortalecimento dos grandes grupos musculares dos membros superiores, e deveriam desenvolver um trabalho específico para a estabilização de tronco. Ao mesmo tempo em que é preciso colocar esta necessidade na cabeça dos coordenadores artísticos das companhias, é preciso, na falta de uma rotina específica que atenda às suas necessidades, que os bailarinos homens procurem ajuda especializada externa para suprir esta deficiência.
Fatores de risco para lesões
O ballet é uma atividade que envolve diversas especificidades que o diferem de outros atletas, incluindo os exercícios de ponta, exercícios em dehors e flexibilidade extrema. As sapatilhas de ponta também podem estar associadas às lesões e devem ser consideradas na avaliação da bailarina. A busca pelo peso extremamente magro também deve ser considerada na avaliação de certos tipos de dores e lesões. A demanda energética do bailarino é elevada e, quando a perda de peso é baseada em dietas muito restritivas, o desempenho é prejudicado e o risco de lesões aumenta.
A tríade da mulher atleta, caracterizada pela associação de baixa ingesta calórica, osteoporose e amenorreia, é uma preocupação, e está frequentemente associada ao desenvolvimento de fraturas por estresse em bailarinos.
Exercícios de ponta
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Exercícios de ponta
A bailarina para dançar na ponta precisa ter um equilíbrio perfeito, onde a posição é mantida com o mínimo de esforço muscular.
Maturidade esquelética
Maturidade física
Para os exercícios de ponta, é necessário um perfeito alinhamento corporal, que vai muito além dos pés e deve incluir joelhos, quadris, coluna e braços. O controle muscular fino deve ser apurado; os pés precisam ter flexibilidade suficiente e colo adequado para colocar o tornozelo em linha reta com o joelho e os dedos do pé. A musculatura abdominal, dorsal e glútea deve estar forte. Isso pode ser obtido por meio de um programa estruturado de treinamento, que deve levar no mínimo 2 anos, e que depende também da evolução física que ocorre durante o estirão do crescimento.Técnica
Para realizar os exercícios de ponta, o peso que antes era equilibrado sobre todo o pé passa a ser equilibrado em uma área bem menor, apenas a ponta dos dedos. Isso deve ser obtido da forma mais suave possível e com o mínimo de esforço muscular. Caso a bailarina não tenha técnica suficiente para manter o alinhamento perfeito, precisará utilizar muito mais a musculatura, podendo ocorrer dores e lesões. Mais do que isso, a bailarina pode até conseguir subir na ponta, mas terá muito mais dificuldades para evoluir tecnicamente.Exercícios para preparar as bailarinas para o uso das pontas
Ainda que a ponta de fato só se inicie ao redor dos 12 anos de idade, o preparo para poder dançar na ponta, tanto do ponto de vista físico como técnico, se inicia muito antes do que isso. Desde os 07 anos de idade aproximadamente, são realizados exercícios com carga e exigência progressiva para ganho de força muscular, equilíbrio e flexibilidade dos pés e membros inferiores. Devem fazer parte da rotina da pequena bailarina os “elevés, “relevés” e todo o trabalho de meia-ponta, treinos de equilíbrio com os olhos abertos e fechados além de exercícios em superfícies estáveis (chão) e instáveis (colchonete, dynadisc, cama elástica, bosu). Por volta de 01 ano antes de iniciarem as pontas, é recomendado utilizar a sapatilha auxiliar (soft) para maior ganho de força e equilíbrio dos pés e tornozelos, porém sem subir na ponta do pé propriamente dita. Este é um recurso que ajuda na transição da meia-ponta para a ponta de fato.Critérios para iniciação na ponta
Não existe um consenso entre as melhores escolas de dança no mundo de qual o momento correto para se iniciar a ponta. Os critérios são muito subjetivos e a avaliação deve levar em conjunto de fatores, mas de fato é comum vermos meninas com as mais diversas queixas ortopédicas após iniciar as atividades na ponta, sem que tenham tido o preparo prévio necessário para isso. Como regra geral, podemos considerar os seguintes critérios para a iniciação na ponta:- Idade mínima de 12 anos;
- Ao menos 2 anos de experiência com o balé clássico.
- Avião: a bailarina terá que executá-lo com precisão e controle de tronco, quadril, pernas e tornozelos para passar nesse teste;
- Sautè em passè: a bailarina terá que executar algumas repetições desse salto, sempre com controle de tronco, quadril, pernas e pés e sempre aterrissando no mesmo lugar;
- Pirueta iniciando e finalizando em quarta posição: a bailarina deve executar o movimento com precisão para ambos os lados, sem quicar.
Teste funcional realizado para a avaliação pré participação em exercícios de ponta.
Uma vez decidido pela iniciação na ponta, a rotina da dança deve ser modificada gradativamente para dar tempo para o corpo se acostumar a esta nova exigência. Deve-se ter cuidado com eventuais queixas musculoesqueléticas e não se deve ter medo de dar um passo atrás, caso se julgue necessário.Sapatilha de ponta
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Sapatilha de ponta
Sapatilha de ponta
Composição da sapatilha
- Caixa (box): é a parte da frente da sapatilha, a que protege os dedos. É feita de papelão, tecido e cola em diversas camadas, conferindo rigidez à mesma. A parte frontal da caixa é achatada, de modo a formar uma plataforma (biqueira) sobre a qual a bailarina irá se equilibrar. A largura da caixa é extremamente importante na escolha da sapatilha, pois isso irá determinar o encaixe da sapatilha na base dos dedos e a adequada distribuição do peso no pé;
- Base: composta pela sola e pela palmilha, a base tem a função de suportar o pé durante os exercícios de ponta.
- - Sola: feita de couro, é presa ao sapato por meio de cola e também por costuras em suas bordas. Pode apresentar ranhuras para evitar o deslizamento, ou serem lisas, para evitar o escorregamento.
- - Palmilha: confere rigidez à sapatilha. Pode ser feita de diversos materiais, como couro, plástico ou cartolina, sendo que a rigidez depende do material utilizado em sua fabricação e de sua espessura. Esta rigidez pode ser uniforme em toda a palmilha ou pode variar ao longo do comprimento da mesma;
- Cabedal: é a parte superior da sapatilha, aquela que fica acima da sola. É feita usualmente de cetim, de forma a conferir leveza aos pés. A parte da frente do cabedal que protege os dedos é denominada gáspea e ajuda no calçamento do pé dentro da sapatilha. Ela não pode ter folgas e nem ser curta demais, de forma a dar suporte ao pé e permitir à bailarina subir nas pontas. A gáspea deve terminar 1 centímetro acima dos metatarsos;
- Fitas e elástico: uma sapatilha de ponta precisa de duas fitas de cetim e um elástico para fixá-la ao pé. A maior parte da segurança da sapatilha no pé é dada pelas fitas. As duas fitas envolvem o tornozelo da bailarina em direções opostas, e as extremidades são presas em um nó. A faixa elástica fica na frente do tornozelo e mantém o calcanhar do sapato no lugar quando a bailarina está na ponta. Algumas escolas não permitem o uso de elásticos.
Sapatilhas de meia ponta e pré ponta
As sapatilhas de meia ponta são mais maleáveis e têm a função apenas de proteger os pés das bailarinas iniciantes. São utilizadas quando a bailarina não está realizando exercícios na ponta. As sapatilhas pré ponta apresentam características intermediárias entre uma sapatilha de meia-ponta e ponta. São mais maleáveis e não são capazes de suportar os pés das bailarinas, mas já apresentam rigidez suficiente para treinar os movimentos e preparar o pé para subir na ponta. O objetivo é permitir o fortalecimento progressivo antes de subir na ponta e fazer o pé se acostumar com a pressão exercida pelo box.Escolha da sapatilha
As principais características que irão variar de uma sapatilha para a outra são o tamanho do box, a rigidez da palmilha, a altura da gáspea e o tamanho da plataforma.- Rigidez da palmilha: determinada pela estrutura (material de fabricação e espessura) da palmilha. As palmilhas mais reforçadas oferecem maior sustentação ao pé durante a ponta, mas exigem mais força do bailarino para subir na ponta. Bailarinos mais fortes e mais experientes tendem a usar palmilhas mais reforçadas, enquanto bailarinos menos experientes tentem a se beneficiar mais das palmilhas mais flexíveis, mas isso depende também da estrutura física de cada pessoa.
- Tamanho do box: bailarinas com pés planos costumam ter os pés mais estreitos e, desta forma, precisam de sapatilhas com caixa mais estreita; já os pés cavos tendem a ser mais largos e precisam de sapatilhas com a caixa mais larga.
- Altura da gáspea: depende de qual a flexibilidade do pé. No linguajar da bailarina, depende de quanto colo a bailarina tem. Para quem tem muito colo, a gáspea alta é a melhor opção, já que ajuda a estabilizar os pés dentro das sapatilhas. Pacientes com pouco colo se beneficiam de uma gáspea mais baixa.
- Tamanho da plataforma: a plataforma é o ponto em que a sapatilha se apoia no chão. Basicamente, as plataformas maiores oferecem maior área de apoio e toleram melhor pequenos erros técnicos, de forma que são preferíveis para bailarinas menos experientes.
Dicas para escolher a sapatilha:
- Coloque a sapatilha no pé e fique em primeira posição: observe se seus dedos têm espaço dentro dela tanto na largura como no comprimento. Eles não podem ficar apertados, “encavalados”, nem tocar a ponta da sapatilha na frente.
- Posicione um dos pés na ponta, de fato, enquanto o outro fica no chão: deve haver uma sobra de tecido no calcanhar de aproximadamente um dedo (você deve “beliscar” essa sobra para verificar o tamanho dela).
- Com o pé ainda na ponta, como no item 2, tire o calcanhar de dentro da ponta e dobre o tecido da sapatilha para fora: observe se a palmilha acompanha o seu pé. Ela não pode “desviar” nem para dentro, nem para fora, e deve acompanhar perfeitamente a sola do seu pé.
- Agora você vai testar a base e a dureza da palmilha subindo na ponta com ambos os pés: a gáspea precisa dar o suporte necessário para que você se equilibre sobre a sapatilha. Já a palmilha tem que permitir que você suba sem tanta dificuldade, porém tem que dar suporte suficiente quando já estiver na ponta.
- Se todos esses itens forem preenchidos, você terá conseguido encontrar uma ponta mais adequada para o seu pé!
Quebrando a sapatilha
Todos os calçados novos, seja no ballet ou para o uso cotidiano, são mais duros quando novos e tendem a amolecer e se ajustar aos pés com o uso. Bailarinas quebram ou amolecem novas sapatilhas de ponta a fim de melhorar a sua forma e eliminar o desconforto. Vários métodos são empregados para isso, como deformá-las contra superfícies duras, golpeá-las com outros objetos, molhar a caixa ou aquecê-las para amolecer a cola, mas estes métodos geralmente encurtam a vida útil da sapatilha. Ao invés disso, uma alternativa mais adequada seria usar a sapatilha nova por pequenos períodos no inicio, até que ela se torne mais confortável.Vida útil
No decorrer do uso normal, há três tipos predominantes de desgaste em uma sapatilha de ponta que irá determinar a sua vida útil:- Desgaste da palmilha: é o principal fator que limita a vida útil da sapatilha. Com o uso regular, a palmilha amolece e se quebra gradualmente, perdendo a capacidade para sustentar o pé;
- Amolecimento do box: o box deixa de oferecer apoio adequado na parte da frente do pé e não consegue mais suportar o mesmo durante os exercícios de ponta;
- Desgaste do tecido exterior: em casos extremos, a gáspea não mais conseguirá calçar o pé adequadamente, e o mesmo perde seu suporte. Na maioria das vezes, porém, este desgaste não irá influenciar no desempenho da bailarina, que deixa de utilizar a sapatilha devido a sua aparência, ou passa a utilizar a mesma apenas durante os ensaios.
Posição en dehors
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Posição en dehors
- Sobrecarga das estruturas internas do tornozelo, aumentando o risco para tendinite do tibial posterior, flexor longo do hálux ou mesmo do tendão calcâneo;
- Desalinhamento do mecanismo extensor do joelho, com maior risco para dor patelofemoral / condromalácia da patela;
- Alongamento excessivo das estruturas anteriores do quadril, podendo levar a dor sobre o psoas e os adutores do quadril. Além disso, pode contribuir para o desenvolvimento de ressalto no quadril
- Aumento da lordose na coluna lombar, sobrecarregando as estruturas posteriores da coluna e favorecendo lesões como a espondilolise.
Flexibilidade do bailarino e associação com lesões
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Flexibilidade do bailarino e associação com lesões
O que torna uma pessoa mais flexível?
A flexibilidade é muitas vezes vista como resultado de um maior ou menor alongamento da musculatura. Mas, de fato, diversos outros fatores contribuem para ela, incluindo a anatomia óssea, os ligamentos, a cápsula articular e as fáscias.Anatomia óssea
A anatomia óssea é especialmente importante no quadril, uma articulação que, na população em geral, tem uma função mais de prover estabilidade do que de gerar movimento. A contenção óssea no quadril, desta forma, é muito maior do que a contenção que existe no ombro, uma articulação anatomicamente preparada para prover mais movimento às custas de uma menor estabilidade.Ligamentos e cápsulas articulares
Os ligamentos e as cápsulas articulares são estruturas que conectam um osso ao outro e que provêm estabilidade para as articulações. São estruturas sem capacidade contrátil e que tendem a se retrair em pessoas que ficam muito tempo em uma mesma posição, como aquelas que trabalham o dia todo sentadas, ou a se alongar, por meio de exercícios específicos. Algumas pessoas possuem naturalmente os ligamentos mais frouxos do que o habitual e tendem a ter maior flexibilidade. São considerados “talentos natos” para a dança. O treinamento ajuda a melhorar esta flexibilidade, mas há um limite para isso.Músculos
O alongamento muscular foi por muito tempo considerado o responsável pela maior ou menor flexibilidade das articulações. Sem negar a importância do alongamento, hoje sabemos que a capacidade de relaxamento muscular é tão importante quanto o comprimento da musculatura propriamente dito. Muitas vezes, a bailarina é capaz de obter um bom nível de relaxamento durante exercícios de alongamento passivo, que utilizam apenas o peso do corpo (exercícios na barra, por exemplo), e desta forma aproveitar o máximo do comprimento que a musculatura pode ter. Durante a rotina de exercícios, porém, não conseguem um bom relaxamento muscular e não conseguem reproduzir a boa mobilidade que possuem na barra. Isso pode ser melhorado por meio dos exercícios específicos de alongamento ativo da musculatura.Diferentes tipos de flexibilidade
A flexibilidade pode ser estática ou dinâmica e pode ser ativa ou passiva.- Estática: São aquelas em que a articulação é mantida durante determinado tempo em uma posição alongada. Podemos dizer que a flexibilidade estática é o resultado do alongamento estático.
- Dinâmica ou funcional: refere-se à capacidade de usar uma amplitude de movimento articular ao desempenhar uma atividade em velocidade normal ou acelerada.
- Ativa: Flexibilidade ativa é a maior amplitude de movimento alcançada usando apenas a contração dos músculos ao redor da articulação. O desenvolvimento deste tipo de flexibilidade é mais difícil, uma vez que requer a flexibilidade passiva para assumir a posição inicial e da contração dos músculos agonistas para mantê-la.
- Passiva: flexibilidade passiva é a maior amplitude de movimento que se pode assumir utilizando forças externas, por exemplo: peso do corpo, a ajuda de um parceiro, o uso de aparelhos, entre outros. A flexibilidade passiva é sempre maior que a flexibilidade ativa.
Exercícios de alongamento
Cada um dos tipos de alongamento descritos acima pode ser treinado de forma específica e devem ser considerados em momentos específicos ao longo da rotina do bailarino. A flexibilidade passiva é o que vem à mente da maioria das pessoas quando se fala em flexibilidade. Estudos recentes, porém, demonstraram que o alongamento passivo tem menor relação com a mobilidade apresentada durante a rotina de exercícios e está associado à perda de força, de desempenho e a maior risco de lesão quando realizado logo antes do ensaio ou apresentação. A obtenção de uma maior flexibilidade passiva é importante para que se consiga uma maior flexibilidade ativa, mas estes exercícios devem ser feitos após a rotina ou em um momento específico, fora das aulas regulares do ballet. Um ponto importante a se considerar é que estes exercícios não devem ser feitos além do limite da dor, uma vez que a dor tende a provocar o espasmo da musculatura e, assim, podem até piorar a flexibilidade. Exercícios de flexibilidade ativa estão mais correlacionados com o desempenho durante a rotina da dança e são os mais indicados para serem feitos no início dos ensaios ou antes das apresentações.Relação entre flexibilidade e lesões
O excesso de flexibilidade pode proteger o bailarino de certos tipos de lesões e torná-lo mais vulnerável para outros tipos. O principal problema do excesso de flexibilidade é o risco de desenvolver instabilidade articular. Até mesmo articulações com significativa contenção óssea, como o quadril, pode sofrer com instabilidade nos bailarinos. A instabilidade pode sobrecarregar os tendões e desencadear tendinites, especialmente ao redor do tornozelo. A estabilidade das articulações depende de estruturas estáticas (que não produzem movimento), incluindo ligamentos, cápsula articular e fáscias, e também de estruturas dinâmicas, mais especificamente da musculatura. A estabilidade estática muitas vezes fica comprometida no bailarino, devido ao excesso de exercícios de alongamento. Para compensar isso, é importante que o bailarino treine sua musculatura para otimizar a função estabilizadora da musculatura, evitando-se assim a sobrecarga, dores e lesões. O excesso de movimento em extensão do tornozelo (posição de ponta) pode também levar ao desenvolvimento do impacto posterior do tornozelo, um problema pouco visto em atletas envolvidos com outras atividades que não o ballet. A mobilidade excessiva da coluna em extensão torna o bailarino vulnerável a um tipo específico de fratura por estresse, denominado de espondilolise. Infelizmente, ainda há muita resistência para a realização de exercícios de fortalecimento entre bailarinos, seja por medo de que isso levará a uma perda de mobilidade, seja por medo de desenvolver uma aparência mais musculosa. Exercícios de força são essenciais para o desempenho e para a prevenção de dores e lesões no bailarino e, desde que feitos da forma correta, não produzirão hipertrofia muscular nem levarão à perda de mobilidade.
Controle de peso entre bailarinos
Bailarinos estão sempre buscando um controle extremamente rígido do peso, eventualmente feitos por meio de “dietas milagrosas” e sem o acompanhamento de um profissional especializado. Transtornos alimentares associados à prática do ballet são frequentes, e algumas das lesões eventualmente observadas no bailarino podem ser consequência disso.
A tríade da mulher atleta, caracterizada pela associação de baixa ingesta calórica, osteoporose e amenorreia, é uma preocupação, e está frequentemente associada ao desenvolvimento de fraturas por estresse em bailarinos.
Transtornos alimentares no ballet
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Transtornos alimentares no ballet
Transtornos alimentares no Ballet
Não há bailarino clássico que não tenha sonhado em fazer parte de um grande ballet de repertório: Don Quixote, O lago dos cisnes, Coppelia, O quebra-nozes... Independentemente da peça ou da companhia, o bailarino, de maneira geral, deve se encaixar em três requisitos básicos para conquistar um papel: técnica apurada, interpretação sensível e físico magro. Desde o sucesso da encenação de La Sylphide, no século XIX, por Marie Taglioni, a personagem Sílfide iniciou o que veio a se tornar a representação do estereótipo da bailarina: magra, longilínea, leve e sem curvas. No mundo do ballet praticamente nada está à contento: se as piruetas foram perfeitas, pode-se acrescentar mais uma ou duas; se o salto foi lindo, pode ser mais alto; se a bailarina está magra, pode emagrecer mais. Muitas vezes, essas exigências são demasiado pesadas para corpos que são humanos, não de fada! A alta expectativa – interna e externa – pode levar à instabilidade emocional e, ao longo do tempo, à distorção da imagem corporal. O ballet exige grande gasto energético. Quando a isso se associa o consumo de calorias abaixo das necessidades, a bailarina entra em um estado de déficit nutricional. É comum as bailarinas se proporem uma meta de emagrecimento irreal e nada saudável, que, quando levada às últimas consequências, pode resultar em dois transtornos alimentares bastante sérios: a anorexia e a bulimia, sendo que a anorexia com episódios eventuais de bulimia é o mais comum. A anorexia é caracterizada pela severa restrição alimentar, levando a um peso corporal significativamente baixo quando considerados os padrões internacionalmente estabelecidos para a idade e a altura. A bulimia acontece quando há episódios de compulsão alimentar seguidos de ações para expulsão do alimento ingerido, mais notadamente o vômito induzido, o uso de laxantes e até de diuréticos. Nesse caso, os indivíduos possuem peso normal ou até um leve sobrepeso. É importante alertar que raramente a bailarina (sim, as mulheres são as maiores vítimas destes transtornos) tem consciência do que está adoecendo. Como é bastante comum ela ter uma visão distorcida de sua imagem, ela se vê como estando acima do peso e sua autoestima cai ainda mais. E entra então em ciclo de baixa autoestima, autocrítica duríssima, ansiedade, mais empenho no emagrecimento que parece não vir, sentimento de solidão e isolamento, baixa autoestima... e o ciclo se repete, com mais gravidade. Infelizmente, além de nocivo, este ciclo é também improdutivo, pois o corpo vai perdendo a força, a energia e a agilidade tão necessárias ao ballet. Outros problemas de saúde passam a aparecer em decorrência do baixo consumo energético:- O sistema imunológico fica deprimido e o paciente passa a adoecer com maior facilidade; quadros como gripes ou resfriados passam a ser mais frequentes e o paciente sofre mais com eles;
- Os ciclos menstruais ficam irregulares e, em situações extremas, a bailarina pode parar de menstruar;
- A bailarina pode desenvolver osteoporose, que é uma redução na densidade do osso, típico de pessoas idosas e inativas. Podem ocorrer fraturas por estresse, que são fraturas por esforços repetitivos em um osso que é mais fraco do que o normal;
- Pode-se desenvolver anemia, e o paciente sente-se mais fraco, sem energia;
- Dores de cabeça tornam-se mais frequentes e a paciente fica irritada mais facilmente;
- Mulheres podem desenvolver a Tríade da mulher atleta, caracterizada pela associação de baixo consumo energético, osteoporose e amenorréia.
- As proteínas dos músculos passam a ser utilizadas como substrato energético para manter as funções do organismo. A perda de musculatura leva a sobrecarga articular, lesões e piora no rendimento dos ensaios.
Principais lesões na dança
As lesões na dança estão na maior parte dos casos associadas à sobrecarga dos movimentos repetitivos. A avaliação de todos os fatores de risco descritos acima é fundamental para que, além de tratar a lesão, o bailarino seja capaz de retornar para a sua atividade de forma segura e com menor risco de recorrência da lesão.
O ballet é uma atividade completa, que usa o corpo como um todo e, dessa forma, qualquer articulação pode ser acometida por lesões. Joelhos, pé e tornozelo, coluna e quadril são, nesta sequência, as articulações mais acometidas. Lesões nos membros superiores são relativamente pouco comuns entre as mulheres, mas são fonte de preocupação nos homens que executam muitos movimentos em que carregam suas parceiras.
Lesões no joelho no ballet
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Lesões no joelho no ballet
Lesões no joelho no ballet
A dor no joelho e, mais especificamente, a dor na parte da frente do joelho, é uma das principais queixas que levam pacientes aos consultórios de ortopedia e é também a queixa ortopédica mais frequente entre bailarinos. Os diagnósticos mais comuns para estas dores são a condromalácia patelar e a tendinite patelar, sendo a diferenciação entre estas duas condições clínicas fundamental, uma vez que o tratamento será diferente. A condromalácia patelar decorre do aumento da pressão de contato entre a patela e a tróclea femoral, um sulco onde a patela fica apoiada. A cartilagem da patela pode ou não estar alterada. O paciente com condromalácia tende a ter dor para subir e descer escadas, para fazer agachamentos e para atividades de impacto de forma geral. A tendinite patelar, por outro lado, provoca uma dor sobre o tendão, mais comumente no ponto onde o tendão patelar se prende na patela, ainda que possa envolver qualquer ponto ao longo do trajeto do tendão. Está mais relacionada à aterrissagem de saltos. Inicialmente a dor acontece no início da atividade física, melhora quando o corpo está aquecido e volta a doer após a atividade. Com a evolução do problema, pode doer durante toda a atividade. Avaliação da dor no joelho em bailarinos A condromalácia patelar no bailarino tem relação direta com a mecânica de certos movimentos da dança. Estes movimentos devem ser avaliados e corrigidos sempre que necessário. Os exercícios de ponta são certamente os primeiros da lista. O bailarino deve ter um perfeito alinhamento do pé, joelho, quadril e coluna durante os exercícios de ponta, de forma a minimizar o esforço muscular, especialmente no joelho. Quando a bailarina inicia a ponta sem uma mobilidade suficiente do tornozelo, sem a força e sem a técnica necessária, o joelho será sobrecarregado e a condromalácia será uma das consequências mais comuns. Outro erro técnico que pode levar à dor no joelho é o mau alinhamento dos membros inferiores nos exercícios de agachamento (pliê e grand pliê). Bailarinos são sempre estimulados a manterem os membros en dehors, com 180 graus de rotação entre os pés. Essa rotação, porém, deve ser mantida às custas dos quadris, e poucos são os que apresentam mobilidade suficiente nos quadris para manter essa posição. Eventualmente, o bailarino tenta compensar a falta de mobilidade nos quadris forçando os joelhos e pés para fora. Além de prejudicar tecnicamente os exercícios, isso pode levar a dores e lesões nos joelhos. Tratamento O Diagnóstico e o tratamento inicial da condromalácia patelar segue as mesmas recomendações de pacientes em geral, não bailarinos. O processo de retorno para a dança, porém, deve considerar os aspectos específicos do ballet. É preciso que se compreenda a relação entre a dor no joelho e eventuais erros técnicos, especialmente os exercícios de ponta, o em dehors e os agachamentos (pliês e grand pliês). Sem isso, a tendência é que a dor se torne recorrente e gere frustração tanto no médico como no bailarino. A recomendação para largar o ballet não é incomum e não deve ser considerada na maior parte dos casos. O afastamento temporário até pode ser indicado de início, mas o objetivo final deve ser a correção dos movimentos que causam a dor, e não o afastamento.Lesões do pé e tornozelo no ballet
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Lesões do pé e tornozelo no ballet
Lesões no pé e tornozelo no ballet
O pé é o principal instrumento de trabalho para os dançarinos, e ao mesmo tempo a origem de muitos pesadelos: por baixo das sapatilhas, muitas vezes escondem-se pés marcados por calos, bolhas, unhas encravadas e joanete. Lesões osteoarticulares são frequentes, e pequenas limitações decorrentes destas lesões podem representar o fim de uma carreira para o bailarino.Lesões na coluna de bailarinos
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Lesões na coluna de bailarinos
Lesões na coluna de bailarinos
Os movimentos extremos solicitados à coluna dos dançarinos fazem com que lesões sejam frequentes entre eles, principalmente nas regiões de maior movimento na coluna cervical e lombar. A principal causa para a dor é o estiramento ou espasmo muscular decorrente da sobrecarga da dança, mas outros diagnósticos devem ser considerados. A espondilolise deve ser aventada no bailarino que apresenta dor em movimentos de hiperextensão da coluna (jeté, arabesque, grand battment); a doença discal deve ser considerada principalmente no bailarino mais velho e que apresenta dor para a flexão da coluna (ao amarrar o calçado, por exemplo). Finalmente, a hérnia de disco / dor ciática deve ser pensada no bailarino que apresenta irradiação da dor para um dos membros inferiores. Espasmo muscular A causa mais frequente da dor é a contratura muscular, que ocorre quando a musculatura é solicitada além dos limites para os quais está preparada, seja por um esforço único ou por esforços repetitivos. Ainda que seja frequente tanto em bailarinos homens quanto em mulheres, os homens são mais acometidos em função da repetição dos movimentos em que levantam suas parceiras. A dor, de maneira geral, não é muito bem localizada e pode irradiar para a região glútea. Em alguns casos é uma dor intensa mesmo em atividades diárias que não exigem esforço físico; em outros casos, a dor melhora após um tempo de aquecimento, de forma que o bailarino não sinta dor durante a prática do ballet, mas voltando a senti-la após a atividade. O tratamento inicial inclui repouso relativo, gelo e uso de medicação anti-inflamatória. Caso se torne frequente, uma avaliação especializada pode descartar outros diagnósticos e identificar fraquezas, encurtamentos musculares e desequilíbrios posturais. Principalmente no caso de dançarinos masculinos, deve-se avaliar a técnica usada para levantar suas parceiras. O tratamento fisioterapêutico para esses pacientes inicia-se pela avaliação de eventuais encurtamentos e diminuição de força. Deve-se trabalhar o corpo do bailarino com liberação da musculatura acometida e fortalecimento das musculaturas de base, fazendo com que ele tenha uma musculatura profunda estável para melhorar suas funções e performances.Lesões no quadril
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Lesões no quadril
Lesões mais frequentes no quadril do bailarino
As lesões mais frequentemente relacionadas ao quadril dos bailarinos são o impacto femoroacetabular, lesões do labrum, o ressalto e as tendinites. Todas estas lesões são de alguma forma relacionadas à frouxidão ligamentar e ao excesso de mobilidade característico dos bailarinos.Impacto femoroacetabular / lesão do labrum acetabular
As lesões por impacto femoroacetabular se referem a uma alteração morfológica (alteração no formato) no fêmur, acetábulo (osso da pelve) ou ambos, levando a um pinçamento entre estes ossos nos movimentos em que o quadril é flexionado e girado para dentro (rotação interna). Esse movimento tende a ficar limitado em comparação com o quadril não acometido, além de provocar dor. O impacto pode causar secundariamente uma lesão no labrum acetabular, uma fibrocartilagem situada na periferia da articulação do quadril e que tem papel fundamental para o bom funcionamento deste. O labrum tem como principal função manter uma pressão negativa dentro da articulação. Quando ocorre a lesão do labrum esta pressão negativa é perdida da mesma forma como ao se abrir pela primeira vez a tampa de um copo de requeijão. Ao perder a pressão negativa, o paciente pode desenvolver instabilidade no quadril, sendo isso ainda mais significativo em bailarinos devido a frouxidão que já existe na articulação. As formações ósseas características do impacto nem sempre causam dor. Muitas pessoas que nunca apresentaram dor no quadril apresentam imagens radiográficas sugestivas de impacto, provavelmente porque os movimentos que realizam no dia a dia não são suficientes para que o pinçamento entre os dois ossos realmente ocorra. Não é o caso de bailarinos, nos quais os quadris estão sempre sendo levados para os extremos de movimento, de forma que estas lesões se tornam sinto costumam se tornar sintomáticas em algum momento. Ressalto femuro-acetabular O ressalto caracteriza-se por um estalido audível no quadril com a realização de alguns movimentos, em especial os movimentos a la seconde (abertura lateral do quadril). Podem ser divididos em três tipos:- Ressaltos internos: São os mais frequentes entre os bailarinos, devido ao movimento do tendão do psoas (o músculo que faz a flexão da coxa) sobre a cabeça do fêmur.
- Ressaltos externos: São os mais comuns na população em geral. Decorrem do movimento da fascia lata (a musculatura lateral da coxa) sobre o trocânter maior (proeminência óssea do fêmur).
- Ressaltos intraarticulares: Estão associados a lesões como a de labrum ou à presença de um fragmento de cartilagem intra-articular solto.
Tendinite no quadril
A tendinite pode acometer diferentes tendões no quadril, sendo mais comum no psoas (parte da frente dos quadris) adutores (parte interna) e glúteos (parte lateral e posterior). Habitualmente o bailarino refere a dor no início do ensaio, seguido por um período de melhora uma vez que ele já esteja aquecido, voltando a ter dor após os ensaios. O bailarino é bastante vulnerável para as tendinites, em função da instabilidade gerada pela frouxidão de ligamentos e da cápsula articular, o que faz com que ele dependa mais da musculatura para manter a articulação estável. Por outro lado, a fraqueza relativa destas musculaturas, comum principalmente entre as bailarinas mulheres, faz com que os músculos e tendões não sejam capazes de suportar essa maior demanda, gerando sobrecarga, instabilidade e dor.
Avaliação médica do bailarino
O bailarino deve ser visto do ponto de vista médico como qualquer outro atleta. A avaliação médica deve buscar identificar os fatores de risco para as principais lesões e problemas de saúde rotineiramente vistos entre os bailarinos, sejam eles decorrentes da prática da dança ou não.
No caso de jovens bailarinas, é importante que se alinhe qual o interesse da bailarina com a dança e sua rotina de ensaios e apresentações. Exercícios de ponta, por exemplo, exigem um exaustivo trabalho de preparação física e técnica pelo qual nem todas as meninas estão dispostas a passar.
O ballet pode muito bem ser praticado por alguém que não busca a performance e, nestes casos, não há porque ir para a ponta. Existem escolas com um viés mais para a “alta performance” e, eventualmente, esta escola pode não ser a melhor escolha para alguém que não tenha maiores pretensões com a dança.
A bailarina deve também ser avaliada quanto ao seu estágio de desenvolvimento físico e sinais da puberdade. A mobilidade e força nas articulações bem como a técnica para certos exercícios deve ser avaliada por um fisioterapeuta ou preparador físico com conhecimento técnico da dança.
O bailarino deve ser questionado quanto a problemas musculoesqueléticos atuais ou passados. Muitas vezes o bailarino considera a dor como “um sacrifício normal pelo qual todo o bailarino precisa passar para dançar em alta performance”. Ainda que de fato o ballet envolva risco significativo para lesões e dores, muito pode ser feito para se minimizar as queixas e isso é fundamental inclusive ao se pensar em melhora na performance.
Como parte de uma avaliação de rotina, o bailarino deve ser questionado também quanto a outros problemas de saúde, em especial da saúde cardiovascular. Uma avaliação cardiológica de rotina é indicada para todos os atletas em busca de rendimento e isso não é diferente para o bailarino.
Existem problemas cardiológicos sérios que podem acometer pessoas aparentemente saudáveis, mas que podem colocar o bailarino sob risco de complicações graves. Além disso, queixas como palpitações ou fadiga excessiva não devem ser menosprezadas.
Existem problemas cardiológicos sérios que podem acometer pessoas aparentemente saudáveis, mas que podem colocar o bailarino sob risco de complicações graves. Além disso, queixas como palpitações ou fadiga excessiva não devem ser menosprezadas.
Tratamento das lesões na dança
A maior parte das lesões nos bailarinos, como discutido acima, está associada à sobrecarga provocada pela dança. Independente da lesão, o tratamento deve seguir uma sequência de eventos em comum.
Inicialmente, é preciso que se controle o sintoma, principalmente a dor. Fisioterapia e outras medidas analgésicas, medicamentosas ou não medicamentosas, podem ser consideradas neste momento. Não adianta querem fortalecer e melhorar a mecânica do paciente enquanto o movimento provocar dor. O afastamento temporário da dança pode ser necessário em alguns casos, em outros podem ser necessárias algumas restrições de movimentos específicos e, em outros, apenas uma redução na frequência e duração dos ensaios.
O passo seguinte é corrigir eventuais deficiências ou desequilíbrios de força. As escolas de ballet ainda apresentam uma resistência bastante significativa em incluírem um trabalho de preparação física na rotina dos bailarinos e isso pode ter o seu preço. Muitos não fazem trabalhos paralelos de força por medo de uma estética mais musculosa. Da mesma forma que atletas de qualquer outra modalidade, não tem como se pensar em uma rotina exaustiva com alta carga semanal de dança sem um trabalho paralelo de preparação física.
Uma vez que a dor esteja controlada e deficiências musculares corrigidas, um passo extremamente importante é avaliar eventuais falhas técnicas que possam contribuir para as lesões. Cada tipo de lesão está associada a deficiências técnicas específicas e é fundamental que estas deficiências sejam identificadas e corrigidas por um fisioterapeuta ou preparador físico com conhecimento da rotina do bailarino.
Infelizmente, muitos médicos ignoram esta última etapa e liberam precocemente o bailarino para retornar para sua rotina normal de ensaio, deixando o bailarino mais vulnerável para a recorrência da lesão.
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