Atleta Profissional

Médico ortopedista especialista em joelho e médico do esporte

As características de treinamento do atleta, seja ele recreativo, amador ou profissional, têm se transformado constantemente. Se, tempos atrás, era comum realizarem até 3 sessões de treinamento em um único dia, passando seis horas ou até mais de seus dias treinando, hoje o foco tem sido muito mais na qualidade e intensidade do treinamento do que na quantidade.

Quando um jogador de futebol passa três horas de seu dia (divididos em duas sessões) entre campo, academia e outras formas de treinamento, isso já é considerado um dia pesado. Muitos treinamentos se resumem a apenas uma hora do dia.

Atletas amadores costumam dividir o tempo entre os treinamentos e uma rotina pesada de trabalho. Ainda assim, muitos são capazes de dedicarem as mesmas três horas diárias para a prática esportiva. Em um primeiro momento, pode-se ter a impressão de que não é preciso ser um profissional para “treinar como um pró”.

A diferença, porém, é que para poder desempenhar com a força e a intensidade que se exige do atleta profissional, é preciso ter uma rotina bastante regrada fora do campo ou quadra. É neste ponto que o profissional se diferencia.

O atleta de alto rendimento está sempre trabalhando nos limites do processo de desgaste e recuperação. Quanto mais ele consegue se recuperar entre um treino e outro, maior a “reserva” que terá para desgastar no treino seguinte (discutimos sobre o processo de recuperação pós treino em artigo específico). Quando esta recuperação é incompleta, o desgaste passa a se acumular treino após treino e o atleta fica vulnerável à lesões por esforço repetitivo, ou “overtraining”.

Alimentação

A alimentação é um dos fatores mais importantes para o desempenho e para a prevenção de lesões no atleta competitivo. Por um lado, ela ajuda a atingir o peso e a composição corporal adequada; por outro, irá fornecer o combustível para a realização do gesto esportivo, o cimento para a construção dos músculos e os substratos para o reparo tecidual durante o período de recuperação entre os treinos.

A composição corporal deve ser vista de forma individualizada e sempre considerando o esporte em questão, uma vez que os objetivos podem ser diferentes de acordo com a modalidade (discutimos a composição corporal do atleta em um artigo específico):

Esportes como a corrida de longa distância, ginástica ou ballet exigem uma baixa quantidade de gordura corporal;

Esportes como o futebol, basquete e vôlei também se beneficiam de baixos índices de gordura corporal, mas deve-se ter um maior cuidado para não comprometer a força;

No Levantamento de Peso Olímpico, o ganho de massa muscular deve ser visto de forma prioritária frente à necessidade de perda de gordura;

Esportes como a maratona aquática se beneficiam de uma quantidade maior de gordura, uma vez que esta auxilia na manutenção da flutuabilidade e da temperatura corporal.

A estratégia nutricional, desta forma, deve ser montada caso a caso e sempre considerando o esporte praticado. Ela deve variar também conforme o dia e horário dos treinos e competições, buscando deixar o atleta em sua melhor condição no momento em que ele mais precisa. Para maiores informações, sugiro a leitura do artigo sobre a alimentação do atleta profissional.

Qualidade do sono

A insônia afeta entre 15% e 40% da população, sendo que os atletas estão especialmente vulneráveis a desenvolverem o problema. Além das diversas causas para insônia na população em geral, existem outros motivos que contribuem para um maior risco para insônia entre os atletas:

Fatores como instabilidade profissional e financeira (muito comum entre atletas), ansiedade por competições, pressão por resultados (principalmente em decorrência de resultados negativos recentes), ou mesmo críticas da imprensa podem levar a uma “atividade mental intensa”.

O atleta deita-se na cama pensando em tudo isso e fica com dificuldade para dormir;

Após um jogo ou treino, o corpo demora certo tempo para abaixar a temperatura, reduzir a frequência cardíaca e os níveis de adrenalina. Desta forma, jogos realizados no período noturno podem dificultar o início do sono;

Atletas viajam constantemente e estão sempre dormindo em hotéis. A mudança de cama, barulhos não usuais, a necessidade de compartilhar o quarto ou mesmo a simples mudança na rotina podem comprometer o sono. Isso sem falar no jet lag, que é uma desregulação do sono provocado pela mudança de fuso horário.

A má qualidade do sono compromete o desempenho do atleta de diversas formas: o pensamento, o humor e a tomada de decisões ficam comprometidos, a recuperação pós-treino fica comprometida e o risco de lesões aumenta. Mais do que isso, as adaptações fisiológicas ao treino, como aumento da força, ocorrem principalmente durante o sono profundo. A falta do sono leva a uma redução na ressíntese de proteína e ao aumento da degradação muscular.

Risco de lesões

Ao atuar nos limites entre desgaste e recuperação, eventualmente este limite acaba sendo ultrapassado. O risco de lesões no esporte profissional ou de alto rendimento é muito maior do que entre aqueles que apenas buscam apenas uma vida ativa e saudável. Em outras palavras, a escolha pela profissionalização esportiva envolve a priorização do desempenho em relação à saúde.

Cada esporte envolve risco para lesões específicas, as quais podem ser decorrentes de traumas, mas podem também estar associadas aos esforços repetitivos. Conhecer as lesões específicas de cada esporte e o como elas acontecem permitem ao departamento médico desenvolver um programa de prevenção de lesões individualizado (no menu principal deste site, você pode acessar textos específicos sobre os esportes mais praticados no país).

Para atletas que não contam com um departamento médico no clube, clínicas especializadas poderão ajudar nesse processo. Conhecer as demandas físicas de cada esporte, por outro lado, é importante para guiar o processo de recuperação e o retorno esportivo após a lesão. O retorno esportivo após uma cirurgia de Ligamento Cruzado Anterior, por exemplo, será diferente em um jogador de futebol ou em um corredor.

Vacinação do atleta

Parece difícil pensar que, a despeito da forma física, de hábitos de vida saudáveis e rigorosos controles médicos a que são submetidos, os atletas profissionais possam, ainda assim, apresentarem risco mais elevado para doenças infecciosas quando comparado a não atletas.

Mas há períodos na rotina dos esportistas, sobretudo aqueles que praticam atividades de alta performance, em que o esgotamento físico faz com que o sistema imunológico fique comprometido, deixando o atleta particularmente propenso a infecções.

Atletas estão sempre viajando, se alimentando e dormindo em locais diferentes. Em função disso, estão mais vulneráveis para surtos de doenças como hepatite A, gripe ou diarreia do viajante, o que pode comprometer a preparação de meses para determinada competição. A maior parte dos atletas se recupera prontamente de uma gripe, mas seria muito frustrante perder toda a preparação para uma olimpíada em decorrência de uma doença que poderia ter sido prevenida pela vacina.

Atletas em seleções nacionais estão sempre em contato com parceiros que treinam nos mais diversos cantos do planeta, e ficam expostos a doenças que, eventualmente, podem estar bem controlados em sua terra natal.

Em função de tudo isso, o calendário de vacinação para o atleta profissional deve ser visto de uma forma diferente. Maiores informações podem ser vistas no Guia de imunização do atleta profissional, produzido em conjunto pela Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) e pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e Exercício (SBMEE).

Cuidados médicos

O atleta profissional deve, preferencialmente, ser acompanhado por um médico com vivência no tratamento de atletas. Em algumas ocasiões, porém, acaba sendo avaliado por especialistas das mais diversas áreas de atuação, sem o conhecimento necessário das especificidades do esportista. Uma preocupação a ser considerada, nestes casos, é com a possibilidade de doping.

Ainda que muitos associem o doping ao uso de esteroides anabolizantes e outras medicações, com a finalidade de ganho de desempenho esportivo, a realidade é que grande parte dos casos ocorrem de forma incidental, por descuido do atleta. O atleta é, em última análise, responsável por tudo aquilo que for encontrado em seu organismo.

Por mais bem intencionada que tenha sido, uma prescrição médica não o livrará da culpa. Algumas das medicações presentes na lista anti-doping jamais levantariam à suspeita, em médicos não especialistas, de se tratarem de substâncias proibidas ao atleta. Falamos mais sobre tudo isso no artigo específico sobre doping.

O contrário também acontece: atletas são tratados inadequadamente, pelo temor que muitos médicos têm de eventualmente estarem prescrevendo substâncias dopantes. Importante considerar que o atleta nunca deve ser sub-tratado, e que existem mecanismos para autorizar o uso de substâncias, quando elas forem de fato insubstituíveis.

Idealmente, o atleta deve ter um profissional em quem confia para entrar em contato antes de consumir qualquer substância prescrita, mas nem todos têm este acesso.

Para minimizar o risco, poderão consultar a lista da WADA (World Anti-Doping Agency). Outra forma de acesso é pelo site da Global DRO, que mostra o status de cada medicação pelo nome comercial (infelizmente, neste caso, pelos nomes das medicações em língua inglesa. O site não informa sobre os nomes comercialmente disponíveis no Brasil).

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