Lesões na ginástica artística

Médico ortopedista especialista em joelho e médico do esporte

A ginástica artística, também conhecida como ginástica olímpica, envolve risco significativo tanto para lesões traumáticas como para lesões por esforços repetitivos, em praticamente qualquer articulação do corpo. Além das rotinas de saltos e giros, a ginástica tem uma característica bastante peculiar que a difere da maior parte dos esportes: o uso dos braços para a sustentação do peso corporal.

A ginástica é um esporte assimétrico, uma vez que o atleta realiza movimentos de saltos e giros sempre para o mesmo lado, sobrecarregando um lado do corpo mais do que o outro. Isso é mais um fator de risco para lesões, e que deve ser minimizado por meio de um adequado trabalho de preparação física.

O ginasta adolescente está especialmente vulnerável para lesões, por uma série de razões:

  • A cartilagem da placa de crescimento é menos resistente ao estresse repetitivo do que a cartilagem articular do adulto. Durante a adolescência, as placas de crescimento estão muito ativas, para propiciarem o rápido crescimento. Isso também as tornam mais frágeis e susceptíveis a lesões;
  • Com as intensas transformações corporais observadas nesta fase da vida, desequilíbrios musculares, perda de flexibilidade ou do controle corporal é comum.
  • A variedade e o número de elementos de risco incorporados às rotinas da ginástica aumentaram substancialmente durante a adolescência.
    Lesões mais comuns na ginástica

Lesões no punho

A dor no punho afeta entre 70 a 80% dos ginastas. Os ginastas utilizam frequentemente o apoio do peso corporal sobre os punhos, algo que o corpo humano não foi preparado naturalmente para fazer. Existem diferentes problemas que podem levar ao desenvolvimento da dor no punho do ginasta:

  • Esforços repetitivos sobre a placa de crescimento do rádio distal (osso do punho) durante o período de crescimento ósseo podem levar a distúrbios do crescimento ósseo, o que por sua vez pode causar uma deformidade característica. Esta alteração óssea, denominada de variância ulnar positiva, predispõe o atleta a desenvolver lesões de cartilagem no punho e lesões traumáticas ou por estresse nos ossos da mão.
  • A mão é formada por um conjunto de 27 óssos, que são unidos uns aos outros por um complexo conjunto ligamentar. O estresse repetitivo pode levar a lesões ou ao afrouxamento destes ligamentos, gerando instabilidade e dor no punho ou mão.
  • As alterações na anatomia dos ossos do punho discutidas acima podem levar ao impacto dos ossos do punho, que se caracteriza pelo pinçamento de partes moles (músculos, tendões, cápsula articular) entre dois ossos.
  • Lesão da fibrocartilagem triangular: Ginastas muitas vezes apresentam uma deformidade característica denominada de variância ulnar positiva, como discutido acima. Isso aumenta o estresse sobre a fibrocartilagem triangular, que fica vulnerável a lesões.

Lesões no ombro

Embora incomuns nas mulheres, as lesões no ombro em ginastas do sexo masculino são bastante frequentes. Isso ocorre em decorrência das exigências de extrema flexibilidade e força necessárias à articulação do ombro para realizar acrobacias exclusivas para eventos masculinos. A maioria dos ginastas têm frouxidão generalizada da articulação do ombro, o que pode predispor ao desenvolvimento de certas lesões, principalmente no manguito rotador. Ou labrum da glenóide.

Lesões nas costas

A dor e a contratura muscular na coluna é a principal causa para dor nas costas na população em geral e também entre os ginastas. São dores associadas à sobrecarga mecânica e que tendem a melhorar em poucos dias. Caso a dor se torne persistente ou frequente, é preciso que se investigue outras causas para a dor.
A espondilólise é uma causa muito comum de lombalgia em ginastas.

Caracteriza-se por uma fratura por estresse nas vértebras, geralmente decorrente do excesso de movimentos de hiperextensão da coluna (quando ela é curvada para trás).Estas fraturas podem acometer um ou ambos os lados da vértebra. Quando os dois lados são acometidos, o atleta pode desenvolver instabilidade, levando ao escorregamento de uma vértebra sobre a outra, o que se denomina de espondilolistese.

Lesões no joelho

O joelho do ginasta está vulnerável tanto para lesões por esforços repetitivos como para lesões traumáticas.

A dor femoropatelar, também conhecida como condromalácia, é a principal causa de dor na parte da frente do joelho. A dor decorre de um movimento anormal da patela sobre a tróclea, um sulco do fêmur no qual ela está apoiada. A tendinite patelar é outra causa a ser considerada para as dores na parte da frente do joelho. Nas crianças e adolescentes, devemos considerar as osteocondrites de Osgood-Schlatter ou de Sinding-Larsen-Johansson.

No caso de lesões traumáticas, o joelho é especialmente vulnerável no momento da saída dos aparelhos ou em quedas desequilibradas. A exceção para isso é o solo, no qual os ginastas podem lesionar o joelho durante os saltos e giros feitos em qualquer momento de suas rotinas. A mais preocupante é a lesão do Ligamento Cruzado Anterior.

Lesões nos pés e tornozelos

Da mesma forma que as lesões no joelho, as lesões no pé ou tornozelo acontecem principalmente na entrada ou saída dos aparelhos ou em decorrência de quedas. A principal lesão são os entorses do tornozelo. Além disso, as aterrissagens repetitivas sobre o calcanhar podem levar ao desenvolvimento da tendinite calcânea, também conhecida como tendinite de Aquiles. Nas crianças e adolescentes, devemos considerar o diagnóstico da osteocondrite de Sever.

Aparelhos da ginástica

Os ginastas competem nos seguintes aparelhos:

  • Masculino e feminino: Solo e salto sobre o cavalo;
  • Masculino: barras paralelas, cavalo, argola e barra fixa;
  • Feminino: Barras assimétricas e trave de equilíbrio.

Ainda que todo ginasta tenha seu aparelho favorito, alguns se dedicam quase que exclusivamente a este aparelho e outros competem em todos eles. A rotina muda completamente de um aparelho para o outro, e as lesões também são diferentes.

  • As lesões nos membros inferiores (joelho, tornozelo e pé) predominam nos aparelhos que envolvem saltos e giros (solo, trave de equilíbrio). Ainda assim, todos os aparelhos envolvem saídas acrobáticas. Quando mal executadas, estas saídas podem levar a entorses do joelho ou tornozelo.
  • Lesões nos membros superiores (ombro, cotovelo e punho) ocorrem principalmente nas traves assimétricas, paralelas ou fixa, argola e cavalo. As argolas são especialmente vulneráveis para lesões nos ombros e o cavalo para lesões nos punhos.

As ginastas do sexo feminino são mais propensas a sofrer lesões nos membros inferiores, enquanto os homens têm níveis mais altos de lesões nos membros superiores. Devido às habilidades dominantes na parte superior do corpo dos eventos masculinos, é muito mais provável que sofram lesões no punho e nas mãos. As mulheres são mais propensas a sofrer lesões no tornozelo e no pé.

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