Lesões no atleta infantil

Médico ortopedista especialista em joelho e médico do esporte

Lesões no atleta infantil

As lesões esportivas são a segunda principal causa de visitas em serviços de emergência para crianças e adolescentes e a principal causa de lesões na escola.

O atleta infantil está sujeito a uma série de lesões, tanto em decorrência de trauma como de esforços repetitivos / sobrecarga. Algumas destas lesões são específicas de um esqueleto ainda imaturo; outras acometem também os atletas adultos, mas se comportam de forma específica nas crianças e adolescentes.

A atividade esportiva está intimamente relacionada a estas lesões, de forma que conhecer o processo de desenvolvimento corporal e neurológico e as fases da formação atlética da criança é fundamental para quem treina estes jovens, bem como para o médico que os tratam.

São na maioria das vezes lesões que possuem fatores desencadeantes, de forma que tratar a lesão sem tratar aquilo que causou a lesão tende a ser insuficiente no longo prazo.

Esqueleto infantil

O esqueleto infantil tem algumas características que o diferem do esqueleto adulto e que influenciam no desenvolvimento de lesões:

  • Maior elasticidade e porosidade;
  • Periósteo (membrana que envolve o osso) mais resistente;
  • Presença das cartilagens de crescimento (local onde o osso cresce).

A cartilagem de crescimento (também chamada de cartilagem epifisária, placa epifisária, fise ou placa de crescimento) é uma estrutura presente em cada extremidade dos ossos longos, responsável pelo crescimento longitudinal destes ossos.

A placa é encontrada apenas em crianças e adolescentes. Com o fim do crescimento, a placa se fecha, sendo que a idade em que ocorre este fechamento varia de osso para osso. A fusão completa ocorre entre as idades de 12 a 16 anos para meninas e 14 a 19 anos para meninos.

A placa de crescimento representa um ponto de fragilidade do osso, sendo acometida em grande parte das lesões em crianças e adolescentes.

Pode ser acometida tanto por lesões traumáticas (fraturas por avulsão, fraturas fisárias) como em lesões por esforços repetitivos (doença de Osgood-Schlatter, doença de Severe). Além disso, a placa fisária influencia na técnica cirúrgica de lesões como o rompimento do Ligamento Cruzado Anterior.

Atividade física na infância

atividade física na infância é fundamental para o desenvolvimento normal das crianças e adolescentes. O principal fator que contribui para o aumento dramático das lesões em atletas jovens é o foco em treinamentos mais intensos, repetitivos e especializados em idades muito jovens.

Pais e treinadores justificam esta especialização esportiva precoce com a ideia de que “a repetição leva a perfeição” e que, se quiser ter sucesso esportivo no futuro, é preciso se sacrificar desde cedo.

Fato é que estudos demonstram que a especialização esportiva precoce não apenas aumenta o risco de lesões, mas também impede o desenvolvimento atlético pleno da criança e é prejudicial em termos de desempenho esportivo no longo prazo.

Conhecer o processo de desenvolvimento físico, neurológico e intelectual do atleta é importante não apenas para entender as fases do desenvolvimento atlético da criança, mas também porque a correção de eventuais falhas no treinamento é fundamental no tratamento das lesões do atleta infantil.

Principais Lesões do Atleta Infantil

Lesões traumáticas

  • Ligamento cruzado anterior
    A lesão do ligamento Cruzado anterior em crianças é relativamente pouco frequente, quando comparado com adultos.
    Ainda assim, é motivo de grande preocupação: a cirurgia, quando feita pela técnica convencional, leva a uma perfuração da placa de crescimento, e em teoria pode interferir no crescimento normal do osso; por outro lado, caso se espere para fazer a cirurgia após o fim do crescimento, o risco de lesões secundárias nos meniscos ou cartilagem aumenta muito, comprometendo a saúde do joelho no longo prazo. Além disso, quanto menor a idade do paciente no momento da lesão, maior o risco de o enxerto vir a se romper no futuro, levando assim a uma segunda lesão do ligamento. Este risco pode chegar a 30%, a depender da idade no momento da cirurgia e da atividade esportiva do paciente.

Fraturas

As fraturas no esqueleto infantil apresentam características diferentes do que se observa em adultos. A fise de crescimento representa um ponto de fragilidade do esqueleto, com risco para fraturas. As fraturas fisárias geram preocupação com o crescimento futuro do osso, sendo este risco dependente das características do traço de fratura e da idade da criança.

fratura por avulsão é também uma lesão característica do joelho infantil. Ocorrem quando o tendão, ao invés de se romper, arranca um fragmento do osso no qual está preso. Isso ocorre porque, no esqueleto imaturo, o osso é o ponto de maior fragilidade do conjunto músculo-tendão-osso.

Lesões por sobrecarga

  • Doença de Osgood-Schlatter
    Apesar do nome pouco convidativo, a doença de Osgood-Schlatter é a principal causa de dor na frente do joelho em atletas pré-adolescentes ou adolescentes. Nesta faixa etária, a apófise de crescimento da tuberosidade da tíbia encontra-se espessada, levando a uma redução no suprimento de sangue para a tuberosidade. Em atletas, que apresentam uma alta demanda, isso pode levar a uma insuficiência vascular e dor no local.
  • Doença de Sever
    Doença de características semelhantes à doença de Osgood-Schlatter, mas acometendo a tuberosidade do calcâneo (osso do calcanhar), ao invés do joelho.
  • Osteocondrite dissecante
    osteocondrite dissecante caracteriza-se pela necrose do osso subcondral (osso logo abaixo da cartilagem). É mais frequente em atletas que realizam esportes de impacto. Ainda que a maior parte dos pacientes com esqueleto imaturo evoluam bem com o tratamento e afastamento temporário do esporte, há o risco de a cartilagem acabar sendo acometida de forma secundária, o que eventualmente pode precisar de cirurgia.

Prevenção de lesões

As lesões são pouco frequentes durante a primeira infância, quando a atividade esportiva tende a ser realizada de forma lúdica, com menor risco de trauma e sem buscar os limites fisiológicos do corpo.

Com o início da puberdade, a exigência física do esporte competitivo e a grande evolução corporal fazem com que o risco de trauma seja bem maior. Além disso, a intensa atividade metabólica nas placas de crescimento ósseo faz com que estas estruturas estejam especialmente predispostas a lesões, tanto por trauma como por sobrecarga.

A melhor forma de se evitar as lesões é respeitar o desenvolvimento corporal da criança e do adolescente e realizar as atividades esportivas dentro do que é indicado para cada fase do desenvolvimento atlético da criança.

Para assimilar as grandes mudanças corporais neste período, é preciso que se tenha um ótimo controle sobre os cronogramas de competição, a carga de treinamento e o tempo de recuperação. Isso envolve manter registros de suas cargas de treinamento, performances e respostas ao estresse.

Outros dados, como frequência cardíaca em repouso, qualidade do sono e níveis de fadiga, também devem ser registrados diariamente, assim como autoestima, dor, apetite, estresse, doença ou lesão. Para as mulheres adolescentes, é indicado que se tenha registrado informações relacionadas a cada ciclo menstrual. Ao monitorar todas as variáveis ​​discutidas, os atletas aprendem a “ouvir seus corpos”.

Além disso, quanto menor a idade do paciente no momento da lesão, maior o risco de o enxerto vir a se romper no futuro, levando assim a uma segunda lesão do ligamento. Este risco pode chegar a 30%, a depender da idade no momento da cirurgia e da atividade esportiva do paciente.

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