Retorno esportivo pós reconstrução do Ligamento Cruzado Anterior
6 de outubro de 2020Ligamento Cruzado Anterior em crianças
6 de outubro de 2020A lesão do Ligamento Cruzado Anterior é a causa mais comum de cirurgias no meio esportivo. Até recentemente, eram mais frequentes em homens, por serem os maiores praticantes de esportes como futebol, basquete, lutas e outras modalidades que envolvem contato físico e mudanças constantes de direção.
Porém, de uns tempos para cá, a participação crescente de mulheres nesses esportes tem aumentado o número de pacientes do sexo feminino acometidas por estas lesões. Mais do que isso: quando analisamos atletas da mesma modalidade e no mesmo nível de competição, observamos que o risco de lesões entre as mulheres chega a ser até oito vezes maior do que entre os homens.
Em uma avaliação que fizemos com as jogadoras da Seleção Feminina de Futebol durante a preparação para a Copa do Mundo da França, em 2019, observamos que, das 39 jogadoras, 17 já haviam feito a cirurgia de reconstrução do Ligamento Cruzado Anterior. Destas, quatro atletas já haviam operado os dois joelhos.
Se, por um lado, isso mostra o grande risco de lesão entre essas atletas, por outro, mostra que o resultado costuma ser bastante satisfatório em relação ao retorno para a prática esportiva de alto rendimento.
Fatores de risco: por que as mulheres são mais suscetíveis a essas lesões?
Características anatômicas, diferenças na mecânica dos movimentos, controle neuromuscular e condições hormonais são alguns fatores que elevam o risco de lesão do Ligamento Cruzado Anterior entre as mulheres. Veja em detalhes a seguir:
Fatores anatômicos
As mulheres apresentam o espaço intercondilar, que é onde fica localizado o Ligamento Cruzado Anterior, mais estreito do que os homens. Essa característica limita a mobilidade do ligamento durante os movimentos de torção do joelho, favorecendo o impacto entre o ligamento e a estrutura óssea ao seu redor. Além disso, as mulheres apresentam a bacia mais larga, o que afeta o alinhamento dos joelhos e da musculatura ao redor do joelho e do quadril.
Fatores hormonais
O ciclo menstrual é regulado por um conjunto de hormônios sexuais que atuam não apenas sobre o aparelho reprodutor, mas também sobre diversas estruturas do corpo feminino, inclusive os ligamentos. Dessa forma, o risco de lesões do Ligamento Cruzado Anterior também é influenciado pelo ciclo menstrual, sendo mais comum durante os períodos pré-menstrual e menstrual. As pílulas anticoncepcionais hormonais, em contrapartida, atuam sobre a concentração desses hormônios e reduzem o risco de lesões ligamentares do joelho.
Fatores biomecânicos e neuromusculares
As mulheres tendem a apresentar fraqueza relativa da musculatura de quadris, glúteos e coxa, e têm mais dificuldade em manter um bom alinhamento da perna em movimentos como saltos ou mudanças de direção. Com isso, colocam mais estresse sobre as estruturas ligamentares, o que aumenta o risco de lesões.
4- Fatores extrínsecos
Podemos definir como fatores extrínsecos aqueles que não estão diretamente relacionados ao corpo feminino. Os fatores que citaremos a seguir são bastante subjetivos e difíceis de serem mensurados, por isso são pouco citados em estudos. De qualquer forma, quem trabalha com o futebol feminino dificilmente questionará sua influência.
- Menor suporte médico e fisioterápico, tanto do ponto de vista preventivo quanto curativo. Lesões musculares, lesões do Ligamento Cruzado Anterior e entorses graves no tornozelo estão entre as mais frequentes e de maior gravidade no futebol, mas podem ser reduzidas significativamente com a realização de exercícios preventivos.
- Piores condições de campo para treino e jogo no futebol feminino. Campos duros e esburacados aumentam o risco de torções do joelho e as consequentes lesões ligamentares.
- Menor número de jogadoras nos elencos, que faz com que atletas sejam colocadas para jogar mesmo sem estar em plenas condições físicas.
- Calendário menos organizado. Muitas equipes não possuem atividades ao longo de um ano completo e as trocas de clubes ao longo da temporada são frequentes. Até mesmo jogadoras em nível de seleção eventualmente passam parte da temporada sem clube e isso faz com que, muitas vezes, cheguem aos eventos principais em condições físicas abaixo do ideal, aumentando o risco de lesões.
O resultado da cirurgia do LCA é diferente nas mulheres?
Não. O resultado é equivalente ao observado entre os homens, tanto em relação ao risco de novas lesões quanto ao retorno à prática esportiva. Clinicamente, as mulheres tendem a ficar com uma frouxidão discretamente maior do que entre os homens. Essa diferença, que é atribuída à influência dos hormônios, não é percebida pelas pacientes. Portanto, tecnicamente, não existem diferenças entre as cirurgias feitas em homens e em mulheres.
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