O tênis é um esporte bastante dinâmico e exigente do ponto de vista físico: envolve acelerações e desacelerações frequentes, grandes amplitudes de movimento, equilíbrio, tomada de decisões e força. Para isso, o tenista que de fato se dedica ao esporte precisa de um trabalho paralelo de preparação física, o que muitas vezes acaba sendo relegado a um segundo plano para aumentar o tempo de quadra.
No nível competitivo, o tênis envolve jogos prolongados e com curto intervalo de tempo entre as partidas. Cuidados com a recuperação pós treino ou competição devem ser considerados nestas situações. Discutimos mais sobre isso em um artigo específico sobre recuperação pós treino.
Preparação física e medidas de recuperação pós treino ou competição são importantes tanto para a melhora do desempenho como para a prevenção de lesões. A periodização do treinamento deve envolver a escolha de competições, períodos de férias / recuperação, períodos de treinamento com priorização da preparação física e períodos de treinamento com foco no tênis.
Lesões no tênis podem estar associadas também a deficiências técnicas e equipamento inadequado, especialmente em relação à raquete. Tamanho e peso da raquete, tensão no encordoamento e a empunhadura precisam ser considerados.
Uma vez que a bola fique murcha, a energia do golpe para conseguir impor a mesma velocidade à bola terá que ser maior, aumentando o risco para lesões por sobrecarga. Sempre que possível, bolas novas devem ser utilizadas, ainda mais para um tenista em recuperação de uma epicondilite no cotovelo. No tênis profissional as bolas são trocadas no 7º game e depois a cada 9 games. No tênis recreativo, o ideal seria trocar ao menos depois de cada jogo.
Diferentes tipos de quadra possuem exigências físicas específicas, de forma que as lesões também possuem características próprias. A escolha da quadra deve ser levada em consideração na avaliação do tenista e no processo de retorno esportivo após uma lesão.
A interação que ocorre entre a bola e a raquete, por um lado, e entre a raquete e a mão / punho do tenista, por outro lado, tem relação direta com muitas das lesões em tenistas. A quantidade de força que é aplicada sobre o punho e o cotovelo dependem de fatores como a velocidade com que a bola é recebida, a construção da raquete e como e onde a bola impacta na raquete.Diferentes forças agem sobre a raquete no momento do contato com a bola, forças essas que serão transferidas para a mão do jogador:
Força vibratória: vibração das cordas após o contato com a bola. Pode ser minimizada por dispositivos anti-vibratórios, ainda que esta seja uma força de menor importância para o desenvolvimento de lesões.
Força torcional: qualquer desvio entre o ponto de contato da bola e o centro de forças da raquete faz com que a raquete tenha uma tendência de girar na mão do tenista. Quanto mais longe do centro de forças, maior será a vibração e maior a força que o tenista precisará para estabilizar a raquete.
Força de choque: força com que a bola “empurra” a raquete para trás. Será maior quanto maior a velocidade da bola. No saque ou no forehand, o punho será forçado em extensão. Já no backhand, será forçado em flexão.
Quanto maiores forem estas forças, maior a probabilidade de o tenista desenvolver lesões por sobrecarga, principalmente no punho (tendinites) e cotovelo (epicondilite lateral / “cotovelo do tenista”).Ainda que não exista um “equipamento ideal”, podemos dizer que algumas das características de construção da raquete pode ter influência direta no desenvolvimento de lesões:Tamanho da raqueteO centro de forças da raquete, também chamado de “ponto ideal”, é o ponto em que, quando atingida pela bola, produz pouca força torcional. Aumentando a largura da raquete em 20%, o “ponto ideal” aumenta em até quatro vezes e o potencial de torção é reduzido em 40%.Principalmente entre tenistas iniciantes, que apresentam maior dificuldade para acertar a bola no centro de força da raquete, usar uma raquete maior pode ser bastante vantajoso.Peso da raqueteA raquete mais pesada faz com que o tenista precise de mais força para sustentá-la e para acelerar o braço no momento do golpe. Em contrapartida, a mais leve tende a girar na mão e o praticante irá fazer mais força para estabilizá-la após o contato com a bola.Quando se considera que a dor ou lesão está associada a falhas técnicas ou por jogar contra adversários mais fortes, é preferível uma raquete mais pesada e com uma cabeça maior. Por outro lado, Se for avaliado que a lesão no braço ocorre devido ao grande volume de treino e jogos, uma raquete mais leve pode ser vantajosa.Material da raqueteAlém de influenciar no peso, o material influencia na rigidez da raquete. Uma raquete mais dura, enquanto fornece mais energia, também transfere mais energia para o braço. Com raquetes mais flexíveis, parte da energia é perdida quando o eixo da raquete se dobra em reação ao impacto, podendo levar a alguma perda na velocidade da bola.Por outro lado, a energia transferida para o punho será menor, de forma que tenistas que estejam com os sintomas do “cotovelo do tenista” devem considerar o uso de raquetes mais flexíveis.EmpunhaduraEmpunhaduras muito pequenas ou muito grandes em relação ao tamanho da mão do tenista aumentam a força despendida para preensão da raquete e podem contribuir para lesões no punho ou cotovelo. Os resultados de estudos são inconsistentes, mas, na dúvida, é preferível que se opte pela raquete com empunhadura maior.EncordoamentoA raquete com encordoamento menos rígido faz com que o tempo de contato entre a bola e a raquete seja maior, permitindo o amortecimento da bola, da mesma forma que acontece quando corremos em uma superfície menos dura. O pico de força e de transmissão de energia para o punho será menor. Portanto, é recomendável que tenistas com tendinopatia no ombro, cotovelo ou punho coloquem a menor tensão no encordoamento com a qual consiga jogar sem prejuízo da técnica.As cordas mais recomendadas são as multifilamentos. Elas devem idealmente ser trocadas em no máximo 1 mês, para quem joga menos de 2x por semana e a cada semana, para quem joga todos os dias e participa de competições.
Muitas das lesões que acontecem em tenistas estão relacionadas à sobrecarga articular decorrente de uma técnica esportiva inadequada. Dependendo da lesão, certos erros técnicos devem ser investigados e, quando necessário, corrigidos.Os principais golpes relacionados ao tênis são o saque, o forehand e o backhand, de forma que estes são os golpes mais relacionados à ocorrência de lesões.
Saque: dores nas costas ou tendinopatias no ombro ou cotovelo podem estar relacionadas a um saque mal executado. O lançamento da bola (Toss) é importante, pois caso o tenista não tenha um padrão, pode sobrecarregar outras partes do corpo. Tenistas com dor no ombro devem ser avaliados principalmente em relação ao saque, que é quando ocorre maior estresse na articulação.
Forehand: O forehand moderno (full western) exige muito dos flexores do punho e cotovelo. Quando associado a uma raquete com encordoamento duro e tenso, pode ser causa de sobrecarga e lesões.
Backhand: o backhand pode ser feito com uma ou com as duas mãos. O backhand com uma mão pode estar associado à epicondilite lateral do cotovelo, doença conhecida também como “cotovelo do tenista”.
Já o backhand com as duas mãos está associado a lesões do complexo de fibrocartilagem triangular no punho ou a espondilolistese, uma lesão relativamente comum na coluna de atletas.Epicondilite lateral (cotovelo do tenista)A epicondilite lateral é um problema comum em tenistas, tanto que ela é popularmente conhecida como “cotovelo do tenista” ou por seu termo em inglês, “tennis elbow”. Primeiramente, vale considerar que, oficialmente, o termo epicondilite foi substituído por Tendinopatia lateral do cotovelo, ainda que o termo epicondilite seja mais utilizado e amplamente difundido.Este é um problema que só afeta atletas amadores, que tendem a fazer muita força na preensão da mão e potencializam o estresse no membro superior. A técnica está diretamente relacionada com otimização da geração de potência, ou seja, é possível jogar com uma técnica ruim, mas a energia necessária para tal será muito maior.Tenistas que batem a esquerda (backhand) com uma mão e/ou slice e/ou aqueles que fazem muita força no saque e não pronam o antebraço estão mais vulneráveis ao desenvolvimento da epicondilite lateral.Além disso, falta de condicionamento geral, incluindo força, equilíbrio e flexibilidade, também estão relacionados ao desenvolvimento do cotovelo do tenista. A raquete precisa ser avaliada: ela não deve ser leve e nem pesada, a média para um adulto deveria ser por volta de 300g.Tipo da corda, tensão da corda e frequência de troca da corda podem fazer toda a diferença no tenista com epicondilite lateral.Epicondilite medialA epicondilite medial, caracterizada pela dor na face interna do cotovelo, é menos comum do que a epicondilite lateral, mas eventualmente também pode acometer os tenistas. Ao contrário da epicondilite lateral, que acomete mais atletas amadores, a epicondilite medial acomete principalmente os atletas de alto rendimento que usam o forehand extremo (full western). Este golpe exige muito dos tendões flexores do punho, os quais se prendem no epicôndilo medial do cotovelo.
Até recentemente, o tênis era claramente dividido entre os especialistas em quadras duras, como os norte-americanos, e especialistas no saibro, como os espanhóis. Quem reinava em uma superfície simplesmente não conseguia bons resultados na outra.
Podíamos dizer que o tênis profissional se dividia entre dois circuitos: um no primeiro semestre, quando se concentram as competições em terra batida, e outro no segundo, quando ocorriam as principais disputas em pisos rápidos, seja cimento, grama ou carpete. Quando mudavam de “habitat”, muitos tenistas ficam totalmente perdidos, incapazes de executar as jogadas mais banais.
Os “super-especialistas” continuam predominando no tênis amador ou mesmo nas posições mais modestas do ranking profissional, mas quando vamos para as primeiras posições do ranking, e a diferença entre os especialistas do saibro e do cimento tem sido cada vez menor. Sempre haverá alguma preferência, mas aqueles que têm a pretensão de crescer no ranking certamente terão que transitar bem entre uma quadra e outra.
O que muda de uma quadra para a outra?
A principal diferença entre as quadras está no quique da bola e na possibilidade ou não de deslizamento do jogador na quadra:
• Na grama a bola não sobe muito e ganha velocidade após o quique, de forma que o jogo tende a ganhar em agressividade no saque e na devolução;
• No saibro o quique é mais alto e o jogo mais lento, o jogador tem mais tempo de preparação para os golpes, os deslocamentos laterais são mais frequentes e o pé desliza na quadra. Em função de tudo isso, o número de trocas de bola no fundo de quadra tende a ser maior e a força utilizada para a devolução da bola também é maior.
• Na quadra dura apresenta uma combinação entre as características dos outros tipos de piso: o quique é intermediário, a velocidade da bola continua rápida, porém a quadra não permite o deslizamento do calçado, o que resulta em um maior trabalho corporal para realizar a freada.
Risco de lesões
As diferenças entre os diferentes tipos de quadra vão além da parte técnica: as exigências físicas também mudam. Quando uma pessoa joga em um único tipo de superfície, seu corpo fica adaptado às exigências daquele tipo de quadra, e podem sofrer com eventuais mudanças repentinas. São exigências diferentes, não maior ou menor.
As lesões no tênis também diferem de uma quadra para a outra.
• As quadras de saibro tendem a exigir mais dos membros superiores, uma vez que a troca de bolas é maior e a força utilizada nos golpes também é maior; pacientes que estejam retornando de uma lesão no ombro, cotovelo ou punho devem desta forma dar preferência para o jogo em quadra rápida.
• Os membros inferiores, por outro lado, são mais exigidos nas quadras duras, devido à maior velocidade e frequência das mudanças de direção. Atletas que estejam retornando de lesões nos membros inferiores (joelho, tornozelo) devem dar preferência às quadras de saibro.
Estudos avaliaram o número de jogos interrompidos por lesões em partidas de Grand Slam e verificaram que os confrontos realizados em grama tiveram menores índices de interrupção, enquanto os jogos em quadras duras apresentaram maior número de partidas incompletas. Mais do que isso, porém, especialistas em quadra rápida estão sob maior risco ao jogar no saibro, e especialistas no saibro estão mais suscetíveis quando na quadra rápida.
O treinamento físico no tênis é importante para a melhora da performance e, também, para a prevenção de lesões. Ele deve ser pensado individualmente a partir de fatores como idade, nível técnico, calendário de competições e histórico de lesões.O tênis profissional envolve grande quantidade de competições e, dentro de cada competição, um número grande de partidas com pouco intervalo para recuperação. As competições são muitas vezes feitas em locais distantes, com vôos longos e mudanças de fuso horário. O tempo disponível para treinamento tende a ser limitado e direcionado para exercícios específicos do tênis e para a correção de deficiências pontuais.Nenhum atleta é capaz de manter a alta performance treinando continuamente desta maneira. Assim, o planejamento de competições precisa ser cuidadosamente discutido e deve incluir períodos de férias para a recuperação e um período de pré-temporada, focado mais na preparação física geral.Tenistas de menor nível competitivo costumam apresentar deficiências físicas mais significativas, incluindo fraqueza de grupos musculares específicos, limitações na mobilidade ou sobrepeso. Estes atletas precisam de mais tempo de treinamento fora da quadra para o condicionamento físico, mais tempo em quadra para o treinamento técnico e menor volume de treino voltado para a competição. Quanto menos experiente o tenista, menor deve ser o número de competições ao longo da temporada.O histórico de dores ou lesões deve ser considerado. Algumas das lesões mais comuns no tênis, incluindo lesões musculares, lesões no ombro, dor nas costas ou lesão do Ligamento Cruzado Anterior são mais recorrentes em atletas que já tiveram o problema anteriormente. O risco para cada uma destas lesões pode ser significativamente reduzido por meio de exercícios preventivos. Por fim, é importante considerar as características de jogo de cada atleta. Alguns jogadores tendem a ficar mais no fundo da quadra, outros tendem a subir mais na rede. Alguns são mais conservadores, outros mais agressivos. No jogo, isso dependerá também das características do adversário. O estilo de jogo de cada atleta tem exigências físicas específicas que precisam ser consideradas.Quando se fala em alto rendimento, é importante que o preparador físico esteja em contato próximo com o treinador. Bons treinadores são capazes de identificar pontos específicos que precisam ser melhorados e isso deve ser passado para o treinador físico para que este trabalhe melhor as necessidades individuais de cada atleta.No caso de dores e lesões, vale o mesmo pensamento. Muitas das lesões no tênis estão associadas à sobrecarga gerada pelo tênis ou a deficiências de força e mobilidade em articulações específicas. O médico do esporte que avalia e trata estas lesões precisa ter boa comunicação com o treinador, fisioterapeuta ou preparador físico, já que o sucesso do tratamento depende da correção dos fatores que estão contribuindo para o problema.Assimetria no tênisO tênis é um esporte intrinsecamente assimétrico: o atleta segura a raquete sempre com a mesma mão, saca sempre com a mesma mão e gira o corpo predominantemente para o mesmo lado. Exercitar os dois lados do corpo de forma diferente leva a desbalanços musculares previsíveis.Estudo com tenistas universitários mostra que a força de preensão na mão dominante é 18% a 25% maior do que na mão não dominante. Esta é uma adaptação que pode ser considerada positiva, uma vez que permite ao tenista desempenhar melhor a sua atividade e não envolve maior risco para lesões.A assimetria de tronco, por outro lado, faz com que a coluna seja tracionada com mais força para um lado do que para o outro. Isso leva a sobrecarga da musculatura mais fraca e pode ser causa de dores e lesões.Da mesma forma, desequilíbrios nos membros inferiores são comuns e estão associadas a risco aumentado de lesão muscular ou lesão do Ligamento Cruzado Anterior do joelho, de forma que devem ser corrigidos por meio de exercícios nos quais ambos os membros trabalham de forma uniforme.
Lesões mais frequentes
O tenista está vulnerável tanto para lesões traumáticas agudas como para lesões por esforço repetitivo.
Aproximadamente um terço das lesões no tênis é decorrente de trauma, sendo mais comuns nos membros inferiores. Lesões musculares (adutores do quadril, reto femoral, isquiotibiais, panturrilha), entorse de tornozelo e, ocasionalmente, lesão no menisco ou no Ligamento Cruzado Anterior do joelho são algumas das mais comuns. “Tennis Leg” é uma ruptura parcial da cabeça medial do gastrocnêmio (músculo da panturrilha) durante uma arrancada para rebater a bola, enquanto “Tennis Toe” é um hematoma que se forma embaixo da unha, causado pela compressão dos dedos dentro do tênis, sendo mais comuns em quadras duras.
Dois terços das lesões ocorrem devido à prática excessiva, acometendo predominantemente os membros superiores (ombro, cotovelo e punho) e eventualmente acometem também a coluna ou os joelhos.
A dor da coluna é o principal motivo para consultas médicas em ortopedia, independentemente da prática esportiva. A queixa é comum também entre os tenistas, principalmente após os 30 anos: aproximadamente 40% dos tenistas profissionais desistem de ao menos um torneio a cada temporada devido à dor lombar. O tênis moderno requer rotações rápidas e repetitivas coluna lombar durante as braçadas e hiperextensão lombar acentuada durante o saque. Impacto repetitivo, frequentes acelerações e desacelerações e excesso de movimentos de tronco levam a uma sobrecarga na coluna, que, com o tempo, pode causar uma doença degenerativa dos discos intervertebrais.O saque também merece atenção especial, já que a hiperextensão da coluna que ocorre na fase de armação para o saque pode levar ao desenvolvimento da espondilólise, um tipo de fratura por estresse que ocorre em atletas que fazem muito este movimento. A avaliação de toda a cadeia de movimento é importante, já que tenistas que não trabalham adequadamente o tornozelo ou joelho durante o saque tendem a transferir o movimento para a coluna.O tênis é um esporte assimétrico, de forma que o atleta rebate sempre com a mesma mão, saca sempre com a mesma mão e gira o corpo preferencialmente para o mesmo lado. Isso tende a provocar desequilíbrios musculares significativos, o que pode comprometer o equilíbrio de forças na coluna, levar a dores e estiramentos musculares e, com o tempo, pode contribuir para a ocorrência de lesões. A realização de exercícios de preparação física buscando a simetria entre os diferentes grupos musculares ao redor da coluna é recomendável para minimizar este desequilíbrio.A espondilólise é responsável por 47% das lombalgias no atleta adolescente, seguida por dor discogênica e distensão muscular. Em pacientes adultos, a dor discogênica é responsável por 48% das dores nas costas, dor muscular por 27%, estenose espinhal ou artrose por 10% e espondilólise por 5%.A avaliação clínica ajuda na compreensão da dor lombar no tenista, sendo que:- Dor que piora ao estender a coluna para trás deve nos fazer pensar em espondilolise;- Piora ao dobrar a coluna para a frente deve nos fazer pensar em doença discal degenerativa;- Dor intermitente que piora nos dias com mais atividade deve nos fazer pensar em estiramento muscular.Outros diagnósticos devem ser considerados. Na dúvida, exames como a radiografia ou a ressonância magnética podem ajudar na elucidação diagnóstica.
Dor no ombro é uma queixa comum entre tenistas, acometendo 25% dos atletas entre 12 e 19 anos e 50% daqueles com mais de 30 anos. A queixa está associada, principalmente, aos movimentos repetitivos do esporte.
O ombro é uma articulação que possui grande mobilidade às custas de uma menor estabilidade. Isso faz com que a articulação seja muito dependente da musculatura ao seu redor e muitas das dores e lesões no ombro estão associadas a deficiências e desequilíbrio desta musculatura.
A maioria dos problemas do ombro no tênis é similar aos de outros atletas de arremesso: o tenista tende a desenvolver uma maior flexibilidade na rotação do ombro para fora e uma redução da rotação do ombro para dentro, levando a um tipo específico de impacto ao que se denomina “ombro do arremessador”.
Durante a fase de desaceleração do ombro, que ocorre no saque ou ao rebater a bola, a cápsula que estabiliza a parte de trás da articulação sofre com micro lesões repetitivas; estas micro lesões cicatrizam por meio de fibrose (tecido cicatricial), levando a uma retração (encurtamento) desta cápsula.
Com isso, o tenista perde parte do movimento de giro do ombro para dentro e seu eixo de rotação é alterado, levando a um impacto entre os ossos que se articulam no ombro. Isso ocorre principalmente ao utilizar a mão acima da altura da cabeça, como na armação para o saque ou no smash. Os tendões ao redor do ombro, especialmente o tendão do bíceps e os tendões do manguito rotador, também tendem a sofrer.
Limitação na rotação interna do ombro, muitas vezes observada entre tenistas
Outro problema na mecânica do ombro que pode ser observado em tenistas é a discinesia escapular, que literalmente significa “movimento errado da escápula”. A escápula é um osso que fica apoiado sobre as costelas e que auxilia no adequado posicionamento do ombro.
A discinesia contribui para uma sobrecarga do ombro e eventual desenvolvimento de dores e lesões, e pode ser adequadamente tratada com um trabalho de reequilíbrio e fortalecimento muscular.
A principal causa de dor no cotovelo de tenistas é a epicondilite lateral, problema conhecido no meio ortopédico como “cotovelo do tenista” devido à alta incidência entre os atletas da modalidade. Estudos mostraram que até 50% dos tenistas recreacionais desenvolverão sintomas da epicondilite em algum momento. A condição ocorre menos em jogadores profissionais, provavelmente devido às melhores técnicas aos equipamentos. Geralmente afeta homens e mulheres entre 30 e 50 anos de idade. Apesar do nome, a condição está ligada à prática do tênis em menos de 5% dos casos.Caracteriza-se pela inflamação no epicôndilo lateral, proeminência óssea que fica na parte externa do cotovelo e de onde se originam os tendões que realizam a extensão do punho. O tendão extensor radial do carpo é o mais comumente afetado. Esse tendão está envolvido na extensão da articulação do punho e é ativo enquanto segura o punho estendido - como quando se segura uma raquete de tênis.A principal causa para o desenvolvimento da epicondilite é a força torcional produzida por um golpe na bola fora do centro de força da raquete, de forma que tenistas com uma técnica menos apurada têm maior probabilidade de desenvolver a epicondilite lateral. Pessoas que iniciam a prática do tênis tardiamente apresentam um risco mais elevado, provavelmente em decorrência de uma limitação técnica. O uso de uma raquete de maior tamanho pode minimizar os efeitos desta deficiência técnica.O golpe de backhand, principalmente quando realizado com uma única mão, também está implicado com o desenvolvimento da epicondilite, bem como o tamanho incorreto da empunhadura e o uso de raquetes pesadas e rígidas, com tensões altas nas cordas.A epicondilite medial é menos comum do que a epicondilite lateral, mas pode ser vista em jogadores que tentam bater na bola com excessivo “top spin” (efeito) no forehand ou máxima pronação no saque. Acomete, geralmente, tenistas mais experientes, inclusive muitos em nível profissional.Afastamento temporário do tênis pode ser necessário, associado a um trabalho de fortalecimento e reequilíbrio muscular sob a orientação de um fisioterapeuta. Ao retornar ao tênis, é importante que se avaliem os eventuais erros técnicos ou de equipamentos descritos acima, e que se corrijam estes erros para evitar a persistência do problema.
O quadril é uma articulação anatomicamente preparada para prover maior estabilidade às custas de uma menor mobilidade. Apesar disso, o bailarino se mostra sempre disposto a desafiar a anatomia e colocar o quadril em posições inimagináveis. Os anos de treinamento levam a um afrouxamento progressivo dos ligamentos, cápsula articular, tendões e músculos que envolvem o quadril e são capazes de gerar instabilidade mesmo na mais estável das articulações.Idealmente, o bailarino deve fazer um trabalho contínuo de reforço da musculatura estabilizadora do quadril para compensar o afrouxamento das demais estruturas ao redor da articulação, mas muitos ignoram esta necessidade por medo de que o fortalecimento leve a uma perda de mobilidade e a uma aparência mais musculosa.O fortalecimento dos diversos grupos musculares que envolvem o quadril é fundamental para o bailarino, não apenas para a prevenção de lesões como para a melhora na performance. Não adianta de nada todo o esforço para melhorar a flexibilidade se os músculos não forem capazes de manter a posição durante os exercícios do ballet, onde a barra não estará lá para ajudar.Mais do que isso, exercícios de força não necessariamente se traduzem em hipertrofia muscular e perda de modalidade, isso depende basicamente das características do treino. O treino de força deve ser específico e direcionado às necessidades individuais do bailarino.Além da mobilidade excessiva e das amplitudes extremas de movimento, outro fator de risco envolvido nas lesões no ballet é a técnica em dehors. É muito comum que bailarinas menos experientes tentem aumentar o em dehors prendendo o pé no chão e forçando o pé para rodar para fora. O em dehors deve ser feito principalmente às custas do quadril, mesmo que não seja possível com isso obter toda a rotação que a bailarina gostaria. Forçar a rotação do pé, além de prejudicar a técnica, pode favorecer o aparecimento de lesões nos quadris, joelhos, coluna ou tornozelo.
Lesões mais frequentes no quadril do bailarino
As lesões mais frequentemente relacionadas ao quadril dos bailarinos são o impacto femoroacetabular, lesões do labrum, o ressalto e as tendinites. Todas estas lesões são de alguma forma relacionadas à frouxidão ligamentar e ao excesso de mobilidade característico dos bailarinos.
Impacto femoroacetabular / lesão do labrum acetabular
As lesões por impacto femoroacetabular se referem a uma alteração morfológica (alteração no formato) no fêmur, acetábulo (osso da pelve) ou ambos, levando a um pinçamento entre estes ossos nos movimentos em que o quadril é flexionado e girado para dentro (rotação interna). Esse movimento tende a ficar limitado em comparação com o quadril não acometido, além de provocar dor. O impacto pode causar secundariamente uma lesão no labrum acetabular, uma fibrocartilagem situada na periferia da articulação do quadril e que tem papel fundamental para o bom funcionamento deste. O labrum tem como principal função manter uma pressão negativa dentro da articulação. Quando ocorre a lesão do labrum esta pressão negativa é perdida da mesma forma como ao se abrir pela primeira vez a tampa de um copo de requeijão. Ao perder a pressão negativa, o paciente pode desenvolver instabilidade no quadril, sendo isso ainda mais significativo em bailarinos devido a frouxidão que já existe na articulação.As formações ósseas características do impacto nem sempre causam dor. Muitas pessoas que nunca apresentaram dor no quadril apresentam imagens radiográficas sugestivas de impacto, provavelmente porque os movimentos que realizam no dia a dia não são suficientes para que o pinçamento entre os dois ossos realmente ocorra. Não é o caso de bailarinos, nos quais os quadris estão sempre sendo levados para os extremos de movimento, de forma que estas lesões se tornam sinto costumam se tornar sintomáticas em algum momento.Ressalto femuro-acetabularO ressalto caracteriza-se por um estalido audível no quadril com a realização de alguns movimentos, em especial os movimentos a la seconde (abertura lateral do quadril). Podem ser divididos em três tipos:
Ressaltos internos: São os mais frequentes entre os bailarinos, devido ao movimento do tendão do psoas (o músculo que faz a flexão da coxa) sobre a cabeça do fêmur.
Ressaltos externos: São os mais comuns na população em geral. Decorrem do movimento da fascia lata (a musculatura lateral da coxa) sobre o trocânter maior (proeminência óssea do fêmur).
Ressaltos intraarticulares: Estão associados a lesões como a de labrum ou à presença de um fragmento de cartilagem intra-articular solto.
Esses ressaltos, que eventualmente podem ser reproduzidos propositalmente pelo bailarino, na maioria das vezes não causam dor e não necessitam de tratamento específico. Quando são dolorosos, no entanto, exigem investigação mais detalhada.
Tendinite no quadril
A tendinite pode acometer diferentes tendões no quadril, sendo mais comum no psoas (parte da frente dos quadris) adutores (parte interna) e glúteos (parte lateral e posterior). Habitualmente o bailarino refere a dor no início do ensaio, seguido por um período de melhora uma vez que ele já esteja aquecido, voltando a ter dor após os ensaios.O bailarino é bastante vulnerável para as tendinites, em função da instabilidade gerada pela frouxidão de ligamentos e da cápsula articular, o que faz com que ele dependa mais da musculatura para manter a articulação estável. Por outro lado, a fraqueza relativa destas musculaturas, comum principalmente entre as bailarinas mulheres, faz com que os músculos e tendões não sejam capazes de suportar essa maior demanda, gerando sobrecarga, instabilidade e dor.
O joelho de tenistas está exposto ao risco tanto de lesões por uso excessivo como de lesões traumáticas. A patela e o tendão patelar são bastante solicitados em movimentos de aceleração, desaceleração e agachamentos, que são muito frequentes no tênis.Fraqueza e desequilíbrio muscular aumentam ainda mais a sobrecarga sobre estas estruturas, podendo levar à dor; caso o problema persista de forma prolongada, alterações na cartilagem da patela (condromalácia patelar) ou no tendão patelar (tendinite patelar) podem se desenvolver.As lesões traumáticas estão relacionadas às constantes mudanças de direção no tênis, com risco de torção do joelho. Estas torções podem provocar lesões dos meniscos, dos ligamentos colaterais e, as mais temidas delas, as lesões do Ligamento Cruzado Anterior.O tênis é um esporte assimétrico, em que o atleta saca e rebate a bola sempre com a mesma mão e gira preferencialmente para o mesmo lado. Isso leva a exigências igualmente assimétricas nos membros inferiores, sendo que diversos estudos mostram uma clara correlação entre a assimetria de força nos membros inferiores e lesões como a do Ligamento Cruzado Anterior.Vale lembrar que a primeira estrutura a estabilizar o joelho não são os ligamentos, mas sim a musculatura; desta forma, manter uma musculatura forte e equilibrada, ainda que não evite totalmente as torções, reduzem bastante o risco. Diversos programas preventivos vêm sendo elaborados a fim de evitar que estas lesões ocorram.
A distensão muscular na panturrilha é comum em esportes que envolvem corrida em alta velocidade, aceleração e desaceleração, incluindo o tênis. A lesão é também chamada de "perna de tenista", ou pelo termo em inglês “tenis Leg”, devido à alta frequência que acomete estes atletas.A Lesão ocorre em movimentos de explosão muscular, ou seja, em uma contração súbita e vigorosa do músculo para se gerar velocidade. 20% dos pacientes relatam ter sentido a panturrilha tensa dias antes de uma lesão, sugerindo sobrecarga prévia. Você sentirá um choque ou uma pedrada na barriga da perna (distensão) ou apenas que esta parte ficou dura, travada (contratura).A lesão pode levar algumas semanas para recuperar totalmente e a volta precoce piora a lesão, levando à cronicidade e diminuindo o desempenho em quadra.A idade mais comum para o estiramento na panturrilha é entre 25 e 44 anos.Para saber mais, sugiro a leitura do nosso artigo sobre lesão muscular e, mais especificamente, o artigo sobre distensão da panturrilha.
A lesão mais comum no tênis é a entorse lateral do tornozelo, que ocorre quando o atleta aterrissa na parte externa do pé e o pé rola para dentro. Isso ocorre geralmente na recepção ao frear ou deslizar o pé no solo, no caso da quadra rápida ou saibro, respectivamente. Durante o treino, uma das causas mais comuns de entorse do tornozelo é pisar sobre uma bola que esteja na quadra. O tenista muitas vezes realiza treinos com muitas bolas simultaneamente e as bolas vão se acumulando em quadra; eventualmente, ao buscar uma bola o tenista pisa sobre outra bola que esteja abandonada na quadra, torcendo o tornozelo. Em determinados tipos de treinos, é altamente recomendável tirar todas as bolas que estejam paradas em quadra ou ao seu redor.A maior parte das entorses do tornozelo se resolve bem com o tratamento não-cirúrgico, mas o tempo de recuperação pode variar de poucos dias a até dois ou três meses. Casos de maior gravidade em atletas de alto rendimento podem ter indicação cirúrgica, já que alguns pacientes evoluem com instabilidade residual e o tenista passa a apresentar entorses de repetição, além de piora no desempenho esportivo.Estas entorses, quando acontecem de forma repetitiva, expõem o tornozelo a lesões secundárias, principalmente às lesões da cartilagem articular. Para evitar estas torções, é importante que se desenvolva um bom trabalho de fortalecimento em paralelo à prática do tênis e que se utilize calçados apropriados. A instabilidade crônica do tornozelo, quando prejudica o desempenho da prática esportiva, tende a ter indicação cirúrgica.Para maiores informações, sugiro a leitura do nosso artigo sobre Entorse do tornozelo.
Prevenção de lesões no tenista
O tênis é um esporte de alto risco para lesões musculoesqueléticas e muitas das lesões mais vistas nestes atletas podem ser efetivamente reduzidas por meio de programas de prevenção.
A preparação física é fundamental para isso. Fadiga, desequilíbrios e fraquezas musculares estão envolvidos diretamente com lesões musculares (especialmente as lesões na panturrilha) e indiretamente com lesões como a entorse do tornozelo, a ruptura do Ligamento Cruzado Anterior ou a lombalgia.
A adequação entre a carga de treino ou jogo e o condicionamento físico individual deve ser considerado. Muitos tenistas iniciam suas queixas após um torneio com jogos sequenciais no mesmo dia, sem estar fisicamente preparados para isso.
Os fatores de risco para lesões podem ser diferentes mesmo em dois tenistas competindo no mesmo nível, de forma que a avaliação preventiva deve idealmente ser montada de forma individualizada a partir de uma avaliação estruturada realizada pelo médico do esporte. Discutiremos isso na sessão seguinte.
Avaliação médica pré-participação do tenista
A avaliação médica pré-participação do tenista deve ter como objetivo a prevenção de lesões, a identificação de comorbidades clínicas que possam afetar o desempenho ou a saúde do tenista (principalmente em relação à saúde cardiovascular) e a avaliação de fatores que possam ajudar na melhora do desempenho esportivo.
A avaliação de deficiências e desequilíbrios musculares, avaliação da mobilidade articular, avaliação técnica do tênis e avaliação do equipamento, especialmente da raquete, podem fazer parte da avaliação musculoesquelética, a depender de eventuais queixas de dores ou lesões. A avaliação da capacidade aeróbica e da resistência anaeróbica deve ser considerada principalmente no tenista de alto rendimento; A avaliação cardiovascular é recomendada para todos os atletas, independentemente do estado de saúde ou idade; O atleta está vulnerável a problemas clínicos relacionados à prática esportiva, mas também está a problemas de saúde geral, não relacionados ao esporte. A avaliação laboratorial de rotina deve fazer parte da avaliação pré-participação do tenista; A avaliação nutricional deve ser considerada, entre outras coisas, pela alta demanda energética do esporte.