O joelho do atleta pode ser acometido por uma ampla gama de problemas, tanto traumáticos como por esforço repetitivo. Muitas carreiras esportivas foram encerradas precocemente no passado em decorrência de problemas no joelho, mas as melhorias no tratamento têm diminuído cada vez mais este risco e permitido que grande parte dos atletas sejam capazes de retornar aos gramados no mesmo nível de antes da lesão. Ainda assim, podemos dizer que, na maior parte dos esportes, o joelho é a maior fonte de preocupação no que tange a lesões.
Lesões traumáticas
O rompimento do Ligamento Cruzado Anterior é a lesão de indicação cirúrgica mais comum entre atletas envolvidos com esportes de contato físico, giro, aceleração, desaceleração e mudanças frequentes de direção. O futebol é a principal causa para estas lesões no Brasil. Pensando em retorno esportivo, é preciso considerar que o processo de reabilitação pós-operatório é tão importante quanto a técnica cirúrgica em si para o resultado da cirurgia.
Apesar dos avanços tanto na técnica cirúrgica como na reabilitação, a tendência atual é de se retardar o tempo de retorno esportivo na busca de uma recuperação plena e de reduzir o risco de uma nova lesão.
O rompimento do Ligamento Colateral Medial, apesar de não ser uma lesão de indicação cirúrgica na maior parte das vezes, é até mais comum do que a Lesão do Ligamento Cruzado Anterior em jogadores de futebol, e pode exigir afastamento relativamente prolongado dos gramados (até dois a três meses). Mais do que isso, há o potencial de levar a uma dor residual na parte interna do joelho, principalmente em jogadores de futebol, ao realizar um chute “de chapa”.
Em atletas mais velhos, principalmente a partir dos 40 anos, os movimentos torcionais podem causar lesões no menisco. Nos atletas mais jovens, as lesões do menisco estão geralmente associadas a outras lesões, principalmente do Ligamento Cruzado Anterior. O comportamento das lesões de menisco é bastante variável de caso para caso: Algumas delas nada mais são do que “achados de exame”, podendo o paciente conviver com ela completamente sem dor.
No outro extremo, o paciente pode se apresentar com o joelho bloqueado, sem conseguir dobrar ou esticar, o que pode eventualmente exigir procedimento cirúrgico de urgência. Na maior parte dos casos, as lesões encontram-se me um estágio intermediário. Nestes pacientes, é preciso considerar a história clínica, o exame físico e os exames de imagem para decidir o tratamento.
Lesões por sobrecarga / esforço repetitivo
O joelho é também o seguimento corporal do atleta mais frequentemente acometido por lesões por esforços repetitivos / sobrecarga.
A condromalácia é comum em atletas e não atletas e está relacionada a uma associação de predisposição individual, deficiências musculares específicas e erros de técnica esportiva. Esportes que envolvem saltos repetitivos, como o vôlei, o atletismo e o ballet são especialmente vulneráveis ao desenvolvimento da condromalácia.
Os pacientes referem dor na parte da frente do joelho que piora em atividades de salto e agachamento. Fora do esporte, subir e descer escadas ou permanecer muito tempo com o joelho dobrado pode desencadear a dor.
A tendinite patelar também leva a uma dor na parte da frente do joelho, de forma que é importante a diferenciação clínica da condromalácia. Isso é feito por meio do exame físico, pelo médico ortopedista especialista em joelho. Geralmente acomete atletas mais velhos, principalmente a partir dos 40 anos.
Corredores e ciclistas são eventualmente acometidos pelo atrito da banda ílio tibial, uma síndrome dolorosa decorrente da compressão do trato ílio tibial na face externa do joelho. O paciente apresenta dor que piora ao longo da atividade, sendo que muitos atletas referem que conseguem correr ou pedalar uma certa distância antes do aparecimento da dor.
Atleta infantil
Durante a fase do estirão do crescimento da puberdade, as placas de crescimento ósseo próximas do joelho encontram-se especialmente ativas, o que as colocam sob maior risco de lesão, traumáticas ou atraumáticas. A placa de crescimento, nesta fase, é o ponto mais frágil do conjunto ligamento- osso ou músculo-tendão osso, de forma que a tendência, frente a um trauma, é que se tenha uma fratura por avulsão, e não lesões ligamentares, musculares ou tendíneas.
Ao invés de o tendão patelar se romper, ele “arranca” um fragmento da tuberosidade da tíbia, resultando em uma fratura desta estrutura. Da mesma forma, ao invés de o Ligamento Cruzado Anterior se romper, ele “arranca” um fragmento da espinha tibial, onde está preso. Já mais próximo do fim do crescimento ósseo, as Lesões do Ligamento Cruzado Anterior passam a ocorrer com maior frequência.
A lesão do Ligamento Cruzado Anterior em crianças deve ser avaliada de forma diferente das lesões que ocorrem em adultos, em decorrência do potencial de interferência no crescimento ósseo normal, por um lado, e o alto risco de lesões secundárias quando se opta pelo tratamento não cirúrgico, por outro.
A osteocondrose de Osgood-Schlatter se caracteriza por um sofrimento vascular da tuberosidade da tíbia, relativamente comum próximo ou durante o estirão do crescimento da adolescência em jovens atletas envolvidos com esportes de impacto. O paciente apresenta dor na parte da frente do joelho, com períodos de melhora e períodos de piora.
Finalmente, a osteocondrite dissecante é uma doença que acomete o osso logo abaixo da cartilagem articular (osso subcondral). É uma lesão de bom prognóstico nesta faixa etária, mas eventualmente a cartilagem pode perder sua sustentação óssea e se destacar do restante da cartilagem, o que pode resultar em indicação cirúrgica e em um pior prognóstico de cura.