A tendinite no ombro se refere a uma dor proveniente de um ou mais dos quatro tendões que formam o Manguito Rotador. Assim, outros nomes usados para se referir ao mesmo problema incluem a tendinite do manguito rotador ou tendinopatia do manguito rotador.
Além disso, bursite do ombro e impacto subacromial são problemas que, de alguma forma, estão relacionados ao desenvolvimento da tendinite e fazem parte do mesmo processo, de forma que estas denominações são, muitas vezes, utilizadas para descrever o mesmo problema.
Iniciaremos este artigo abordando o que é o manguito rotador e os aspectos anatômicos que são relevantes para a compreensão das tendinites no ombro. Em seguida, discutiremos as causas da tendinite, o que o paciente sente, os métodos diagnósticos e o tratamento.
Falamos em outro artigo sobre as lesões do manguito rotador, que é quando estes tendões se rompem.
O que é o manguito rotador?
O manguito rotador é um conjunto de quatro tendões que envolvem o ombro: supraespinhal, infraespinal, subescapular e redondo menor. Estes tendões ajudam a manter o ombro no lugar e contribuem para o movimento da articulação, sendo que cada um destes tendões movimentam o ombro de uma forma diferente.
Anatomia do ombro
O ombro é a articulação com maior liberdade de movimento em nosso corpo, sendo que essa mobilidade toda depende de uma complexa anatomia e mecânica de movimento. Quando o movimento não ocorre da forma correta, os tendões são sobrecarregados, dando origem às bursites e tendinites do ombro.
O ombro é formado por três ossos: o úmero, a escápula e a clavícula. Quando levantamos o braço, o movimento se divide, parte na articulação entre o úmero e a glenoide escapular e parte entre a escápula e a caixa torácica. Aqui, temos uma primeira causa para as tendinites: quando existe uma limitação em um destes movimentos (geralmente entre a escápula e a caixa torácica), o outro fica sobrecarregado, favorecendo o desenvolvimento das tendinites.
A anatomia óssea está diretamente relacionada com o desenvolvimento das tendinites no ombro. Os tendões do manguito rotador estão localizados em um espaço delimitado, acima, pelo acrômio (proeminência da escápula) e pelo ligamento coracoacromial; e, abaixo, pela cabeça do úmero. Como veremos adiante, a redução neste espaço é a principal causa para as tendinites no ombro.
Causas da tendinite no ombro
Existem diversas doenças que causam a bursite e a tendinite no ombro, mas a mais comum é conhecida como “Síndrome do Impacto do Ombro” ou “síndrome do impacto subacromial”.
Impacto subacromial
O impacto do tubérculo maior do úmero contra o teto formado pelo acrômio e o ligamento coracoacromial leva ao pinçamento dos tendões do manguito rotador e da Bursa, dando origem às tendinites e bursites.
O impacto acontece, geralmente, pela associação de três fatores:
- Um teto muito fechado: Algumas pessoas possuem o acrômio mais proeminente, aumentando a cobertura do ombro;
- Movimento inadequado da escápula: Normalmente, para cada 3 graus de elevação do ombro, um grau é realizado entre a escápula e a caixa torácica e dois graus entre a escápula e o úmero. Quando o movimento da escápula está, de alguma forma, sendo ineficiente (ao que denominamos de discinesia escapular), o movimento é todo transferido para a articulação entre o úmero e a glenoide da escápula, favorecendo o impacto;
- Postura ruim, com ombros posicionados para frente (protração da escápula). Isso leva a uma anteriorização do acrômio, favorecendo o impacto.
A síndrome do impacto subacromial é muito comum em atletas como nadadores e arremessadores, que realizam movimentos repetitivos com o braço acima da altura da cabeça. No entanto, essa condição não se limita aos atletas, sendo também muito comum na população em geral.
O que o paciente sente?
De modo geral, o problema surge após um período em que a pessoa executa movimentos repetitivos de forma inadequada. Em atletas, é quase sempre resultado de técnica incorreta ou de uma lesão associada.
O principal sintoma é a dor, especialmente na lateral do ombro, que piora à noite ou ao se deitar. O ombro pode apresentar rigidez, dor ao levantar ou abaixar o braço, inchaço e estalo ao movimentar o ombro. A dor é sentida, principalmente, entre os 60° e os 120°. Antes dos 60° e depois dos 120° a dor tende a aliviar.
Quando a tendinite do manguito rotador se encontra em estágio mais agudo, o paciente pode acordar durante a noite e pode ser necessária uma mudança de posição para melhorar a dor. Além disso, o ombro pode perder força e mobilidade (como alcançar as mãos nas costas).
No esporte, pode comprometer alguns movimentos importantes, como lançar uma bola ou, mais especificamente no vôlei, bater na bola em um saque ou ataque (“cortada”). Já na natação, alguns movimentos também podem se tornar muito dolorosos. Algumas modalidades, como tênis, natação e arco e flecha, tendem a expor mais os atletas ao problema, já que exigem muito esforço do ombro.
Ainda que o que está descrito acima seja válido para as tendinites do manguito rotador como um todo, cada tendão tende a causar dor com um estímulo específico. Assim discutiremos abaixo as especificidades dos dois tendões mais comumente acometidos: o supraespinhal e o subescapular.
Tendinopatia do supraespinhal
O tendão do supraespinhal é, entre os tendões do manguito rotador, o mais frequentemente acometido tanto por lesões como pela tendinite. Isoladamente, é a causa mais comum de dor no ombro. Isso acontece devido à sua localização sobre a cabeça do úmero, que o torna mais vulnerável para o pinçamento em decorrência do impacto subacromial.
O paciente com tendinopatia do supraespinhal tem dor com os movimentos de elevação, principalmente com o ombro rodado para dentro. O teste de Jobe reproduz o movimento que causa dor na tendinopatia do supraespinhal, sendo bastante característico do problema.
Teste utilizado para simular a dor da tendinite do supraespinhal (teste de Jobe): O paciente tenta levantar o braço com o dedão apontando para baixo, contra uma resistência imposta pelo médico examinador.
Tendinite do subescapular
O subescapular é o maior e mais forte dos tendões que formam o manguito rotador. Ele é também o mais utilizado no ombro, sendo responsável por girar o ombro para dentro. É um tendão importante tanto em atividades do dia a dia como na prática esportiva. Como parte do manguito rotador, o subescapular é importante, também, na estabilização do ombro e na prevenção de luxação.
Os sintomas da tendinite do subescapular incluem dor ao mover o ombro, especialmente quando o braço está acima dos ombros. Um músculo subescapular sobrecarregado pode fazer com que você sinta que não é capaz de levantar o braço.
Teste utilizado para simular a dor da tendinite do subescapular (teste de Gerber): O paciente coloca a mão nas costas. Em seguida, tenta afastá-la das costas contra a resistência do examinador.
Diagnóstico da tendinite no ombro
O diagnóstico da tendinite no ombro começa com uma queixa e um exame físico compatível. Isso porque as alterações em exames de imagens sugestivas de tendinite, bursite ou síndrome do impacto são bastante comuns e podem estar presentes sem qualquer tipo de queixa. Nestes casos, os achados de exame devem ser simplesmente ignorados.
As radiografias são importantes para avaliar uma eventual artrose e, também, o formato do acrômio.
A ressonância magnética é o melhor exame para avaliar os tendões propriamente ditos e a Bursa. Além disso, ajudará na identificação de eventuais lesões da cartilagem articular.
Tratamento da tendinite no ombro
A formação do “esporão” ou uma anatomia desfavorável do acrômio não podem ser evitadas. Existem, porém, algumas medidas que podem ajudar a reduzir o pinçamento dos tendões do manguito rotador:
- Evitar movimentos com o braço acima da altura dos ombros (90° de abdução ou flexão);
- Fortalecer o manguito rotador: Isso ajudará a manter a congruência da articulação durante os movimentos de elevação;
- Corrigir a postura: Evitar manter os ombros posicionados para frente (protração da escápula).
A fisioterapia é importante tanto para o fortalecimento dos músculos do manguito rotador como para a correção dos desequilíbrios musculares que levam à postura mais anteriorizada da escápula.
Quando as medidas acima não forem suficientes para a correção do problema, o tratamento cirúrgico pode ser considerado.
Cirurgia para o tratamento da tendinite no ombro
A cirurgia pode ser considerada nos casos em que as medidas descritas acima para o tratamento não-cirúrgico não estiverem sendo suficientes. A cirurgia busca a abertura do espaço subacromial por meio da retirada de parte da Bursa e a ressecção de parte do acrômio.
Ela é indicada em pacientes que apresentam um formato de acrômio favorável ao impacto subacromial, não servindo para a correção dos demais fatores envolvidos no desenvolvimento da tendinite no ombro. Assim, o tratamento cirúrgico não exclui a necessidade de realizar as medidas descritas para o tratamento não-cirúrgico.
A cirurgia é toda feita por artroscopia. Neste procedimento, uma microcâmera é introduzida por uma pequena incisão de aproximadamente 1cm. Outras incisões do mesmo tamanho são feitas caso a caso, para a introdução do instrumental cirúrgico.
Em geral, a recuperação da cirurgia leva de 2 a 4 meses. Nas primeiras semanas, o paciente usará tipoia para diminuir a pressão e o estresse sobre o ombro operado. Assim que a dor melhorar, será hora de iniciar alongamentos e exercícios de fortalecimento.
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