Sapatilhas de Ponta

Sapatilha de ponta

Desenvolvida por Filippo Taglioni, coreógrafo da própria filha, Marie Taglioni, para dançar o balé La Sylphide, as sapatilhas de ponta são o desejo e o tormento de toda bailarina. Se por um lado ela confere leveza e beleza, por outro pode ser a causa de dores, calos e feridas.

Além de estar técnica e fisicamente bem para realizar exercícios de ponta, a escolha de uma sapatilha adequada é de extrema importância tanto no que concerne à técnica como à prevenção de lesões. Não existe uma sapatilha ideal para todos os bailarinos, e o fato de uma sapatilha ser usada por uma grande bailarina não significa que ela seja adequada para todos. Assim, discutiremos aqui o que deve influenciar na escolha de uma sapatilha.

Composição da sapatilha

A sapatilha é formada por quatro partes:

– Caixa (box): é a parte da frente da sapatilha, a que protege os dedos. É feita de papelão, tecido e cola em diversas camadas, conferindo rigidez à mesma. A parte frontal da caixa é achatada, de modo a formar uma plataforma (biqueira) sobre a qual a bailarina irá se equilibrar. A largura da caixa é extremamente importante na escolha da sapatilha, pois isso irá determinar o encaixe da sapatilha na base dos dedos e a adequada distribuição do peso no pé;

– Base: composta pela sola e pela palmilha, a base tem a função de suportar o pé durante os exercícios de ponta. A sola é feita de couro e é presa ao sapato por meio de cola e também por costuras em suas bordas. Pode apresentar ranhuras para evitar o deslizamento, ou serem lisas, para evitar o escorregamento. A palmilha é o que confere rigidez à sapatilha. Pode ser feita de diversos materiais, como couro, plástico ou cartolina, sendo que a rigidez depende do material utilizado em sua fabricação e de sua espessura. Esta rigidez pode ser uniforme em toda a palmilha ou pode variar ao longo do comprimento da mesma;

– Cabedal: é a parte superior da sapatilha, aquela que fica acima da sola. É feita usualmente de cetim, de forma a conferir leveza aos pés. A parte da frente do cabedal que protege os dedos é denominada gáspea e ajuda no calçamento do pé dentro da sapatilha. Ela não pode ter folgas e nem ser curta demais, de forma a dar suporte ao pé e permitir à bailarina subir nas pontas. A gáspea deve terminar 1 centímetro acima dos metatarsos;

– Fitas e elástico: uma sapatilha de ponta precisa de duas fitas de cetim e um elástico para fixá-la ao pé. A maior parte da segurança da sapatilha no pé é dada pelas fitas. As duas fitas envolvem o tornozelo da bailarina em direções opostas, e as extremidades são presas em um nó. A faixa elástica fica na frente do tornozelo e mantém o calcanhar do sapato no lugar quando a bailarina está na ponta. Algumas escolas não permitem o uso de elásticos.

Os locais onde se fixam os elásticos e fitas são importantíssimos, e o posicionamento ideal depende de cada pé, de forma que não devem vir anexados no processo de fabricação de calçados. Depois de adquirir um novo par de sapatilhas de ponta, o bailarino deve determinar os locais de fixação adequados para as fitas e elásticos e depois costurá-los.

Escolha da sapatilha

A escolha depende de diversos fatores, como formato do pé, arco do pé, força e mobilidade do tornozelo, experiência e até do tipo de dança que será feito – grandes bailarinos possuem diferentes sapatilhas para serem usadas de acordo com o repertório. A escolha da sapatilha deve ser individualizada, sendo importante que se veja qual a sapatilha que melhor se ajusta especificamente ao pé.

As principais características que irão variar de uma sapatilha para a outra são o tamanho do box, a rigidez da palmilha e a altura da gáspea.

– Força dos pés: bailarinos mais experientes normalmente possuem mais força no pé e usam sapatilhas mais reforçadas, mas isso não é uma regra. A força nem sempre está ligada à experiência, e algumas pessoas possuem pés fortes mesmo sem ter feito um trabalho de pontas extensivo. Ao experimentar uma sapatilha, tente fazer um movimento de arco com os pés; é preciso que se consiga realizar o movimento com certa resistência.

Caso tenha muita dificuldade para fazer o arco, experimente uma sapatilha mais maleável, e caso tenha muita facilidade, experimente uma mais resistente. Tanto o uso de uma sapatilha excessivamente maleável como de uma excessivamente resistente irá sobrecarregar as articulações e pode ser causa de dores ou lesões. Lembre-se de que com o uso, a palmilha vai sendo quebrada e vai ficando mais mole.

– Largura dos pés: bailarinas com pés planos têm os pés mais estreitos e tendem a utilizar sapatilhas com caixa estreita, e bailarinos com pés cavos têm pés mais largos e tendem a usar sapatilhas com a caixa mais larga. Sapatilhas com box largo em pés finos deixarão os pés folgados dentro dela, sem dar a firmeza necessária para o movimento, podendo causar lesões e deformidades nos dedos.

Por outro lado, um box curto em pés largos aumentará a pressão e o atrito sobre as articulações e musculatura e será causa de dor. Procure calçar sapatilhas com diferentes tamanhos de box e veja qual fica mais confortável para os seus pés.

– Colo do pé: este influencia na altura da gáspea da sapatilha. Para quem tem muito colo, a gáspea alta é a melhor opção, já que ajuda a estabilizar os pés dentro das sapatilhas. Pacientes com pouco colo utilizam-se de gáspea mais baixa.

– Experiência: a experiência da bailarina também influencia na escolha da sapatilha de ponta. Antes de iniciar os exercícios na ponta, ela utilizará as sapatilhas de meia ponta e pré-ponta.

As sapatilhas de meia ponta são mais maleáveis e têm a função apenas de proteger os pés das bailarinas iniciantes. Em seguida, passa-se a utilizar as sapatilhas pré-ponta, com características intermediárias entre uma sapatilha de meia-ponta e uma sapatilha de ponta. São ainda bastante maleáveis e não são capazes de suportar os pés das bailarinas.

O objetivo é permitir o fortalecimento progressivo antes de subir na ponta e fazer o pé se acostumar com a pressão exercida pelo box. Ao subir na ponta, bailarinas menos experientes tendem a usar sapatilhas mais maleáveis, ainda que isso não seja uma regra, como discutido acima.

Além disso, o uso de uma biqueira mais larga faz com que a área de apoio seja maior, facilitando o equilíbrio.

– Repertório: bailarinas experientes utilizam-se de diferentes sapatilhas de acordo com o repertório. Um estilo lírico, mais lento, demanda uma sapatilha mais maleável, enquanto um estilo agressivo e com muitas piruetas é melhor realizado com uma sapatilha mais dura, que suporte melhor o pé. 

Dicas para escolher a sapatilha:

1) Coloque a sapatilha no pé e fique em primeira posição: observe se seus dedos têm espaço dentro dela tanto na largura como no comprimento. Eles não podem ficar apertados, “encavalados”, nem tocar a ponta da sapatilha na frente.

2) Posicione um dos pés na ponta, de fato, enquanto o outro fica no chão: deve haver uma sobra de tecido no calcanhar de aproximadamente um dedo (você deve “beliscar” essa sobra para verificar o tamanho dela).

3) Com o pé ainda na ponta, como no item 2, tire o calcanhar de dentro da ponta e dobre o tecido da sapatilha para fora: observe se a palmilha acompanha o seu pé. Ela não pode “desviar” nem para dentro, nem para fora, e deve acompanhar perfeitamente a sola do seu pé.

4) Agora você vai testar a base e a dureza da palmilha subindo e parte da frente do box a ponta, com ambos os pés: a parte da frente da caixa precisa dar o suporte necessário para que você se equilibre sobre ela. Já a palmilha tem que permitir que você suba, porém tem que dar suporte lá em cima também.

5) Se todos esses itens forem preenchidos, você terá conseguido encontrar uma ponta mais adequada para o seu pé!

Quebrando a sapatilha

Todos os calçados novos, seja no ballet ou para o uso cotidiano, são mais duros quando novos e tendem a amolecer e se ajustar aos pés com o uso. Bailarinas quebram ou amolecem novas sapatilhas de ponta a fim de melhorar a sua forma e eliminar o desconforto.

Vários métodos são empregados para isso, como deformá-las contra superfícies duras, golpeá-las com outros objetos, molhar a caixa ou aquecê-las para amolecer a cola, mas estes métodos geralmente encurtam a vida útil da sapatilha. Ao invés disso, uma alternativa mais adequada seria usar a sapatilha nova por pequenos períodos no inicio, até que ela se torne mais confortável.



Vida útil 


No decorrer do uso normal, há três tipos predominantes de desgaste em uma sapatilha de ponta que irá determinar a sua vida útil:

– Desgaste da palmilha: é o principal fator que limita a vida útil da sapatilha. Com o uso regular, a palmilha amolece e se quebra gradualmente, perdendo a capacidade para sustentar o pé;

– Amolecimento do box: o box deixa de oferecer apoio adequado na parte da frente do pé e não consegue mais suportar o mesmo durante os exercícios de ponta;

– Desgaste do tecido exterior: em casos extremos, a gáspea não mais conseguirá calçar o pé adequadamente, e o mesmo perde seu suporte. Na maioria das vezes, porém, este desgaste não irá influenciar no desempenho da bailarina, que deixa de utilizar a sapatilha devido a sua aparência, ou passa a utilizar a mesma apenas durante os ensaios.

A durabilidade da sapatilha depende de fatores como técnica da dança, peso da bailarina, cuidados da bailarina com seus calçados e utilização de métodos para amolecimento da palmilha, entre outros.

Ainda assim, normalmente não ultrapassa 20 a 30 horas de uso (apenas o tempo de utilização das sapatilhas, que não corresponde ao tempo total de ensaios!).

Bailarinos mais experientes exigem mais das sapatilhas e em alguns casos elas não são usadas mais do que em uma ou duas apresentações. Considerando isso, é importante que jovens bailarinos e seus pais entendam que não adianta realizar loucuras e fazer um super investimento em um par de sapatilhas de uma marca mais renomada e depois não ter dinheiro para trocá-las quando for preciso!
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