Prevenção de lesões no futebol
Entorses e distensões no joelho ou tornozelo, traumas por colisões com outros jogadores, distensões musculares durante o chute ou arrancadas ou lesões por uso excessivo, como a pubeíte,ou pubalgia, tendinite de Aquiles e a canelite são alguns dos mecanismos comuns de lesões no futebol e que podem ser abordados em um programa de prevenção.
Muito se fala em “exercícios preventivos” com foco no futebol, mas, de fato, a prevenção deve ir muito além de um conjunto de exercícios. A compreensão dos fatores de risco para lesões no futebol é a base para qualquer problema de prevenção.
Fatores de risco para lesões no futebol
Equipamentos
O primeiro ponto na hora de escolher uma chuteira é o conforto. O formato do pé difere de atleta para atleta, e a chuteira que é usada pelo Cristiano Ronaldo não necessariamente será boa para você. Uma chuteira com áreas de maior compressão pode levar ao desenvolvimento de bolhas e calos os quais podem, inclusive, impedir um atleta de entrar em campo.
Idealmente, a chuteira deve ser experimentada com o uso do meião na hora da compra.
Além disso, deve-se ter atenção com os tipos de travas das chuteiras, as quais devem ter aderência apenas o suficiente para trazer a estabilidade necessária ao jogador. Uma tração excessiva pode fazer com que o pé fique preso ao solo, levando o corpo a girar sobre o pé e colocando o atleta sob risco de entorses do joelho ou tornozelo.
Já as caneleiras são importantes para a prevenção de lesões graves na perna, como as fraturas da tíbia ou fíbula e, também, de contusões ou cortes. O futebol é a causa de aproximadamente 10% de todas as fraturas da perna, o que levou a FIFA a obrigar o uso das caneleiras durante as partidas.
As caneleiras ajudam a distribuir a força gerada pelo contato da chuteira do adversário contra a perna, reduzindo o risco de fraturas. Infelizmente, muitos jogadores deixam de usar o equipamento nos treinamentos.
Fraquezas e desequilíbrios musculares
O futebol é um esporte que envolve acelerações, desacelerações e mudanças de direção frequentes. Quando a musculatura não responde adequadamente, o atleta perde o controle sobre o movimento, da mesma forma que um carro que chega a uma curva sem freio.
Lesões como o rompimento do ligamento cruzado anterior e outras decorrentes de entorses do joelho ou tornozelo, lesões musculares e lesões por sobrecarga, como a pubalgia, lombalgia e tendinite patelar ou de Aquiles estão associadas a fraquezas e desequilíbrios musculares específicos.
Muitos atletas até possuem uma musculatura forte e equilibrada, mas não apresentam uma boa coordenação do movimento, o que prejudica o gesto esportivo. A lesão do Ligamento Cruzado anterior está especialmente ligada a uma incapacidade em manter um bom alinhamento do membro inferior em movimentos, como saltos, aterrissagem de saltos, ou até mesmo na corrida.
Fadiga e controle de carga
A fadiga desempenha um papel fundamental no risco de lesões no futebol. A maior parte das lesões acontece nos 15 minutos finais do segundo tempo de jogo, justamente em decorrência da fadiga.
A fadiga está associada à carga (volume e intensidade) de treino ou jogo, ao preparo físico e à capacidade de recuperação entre os treinos. Em situações de fadiga extrema, o desempenho cai e o risco de lesão aumenta.
Medidas preventivas no futebol
A prevenção de lesões no futebol envolve uma série de medidas, que incluem:
- Correção das fraquezas e desequilíbrios musculares;
- Adequação do equipamento esportivo (chuteira e caneleira);
- Adequação da carga de treino;
- Monitoramento do retorno esportivo;
- Reconhecimento precoce de lesões;
- Correção de fraquezas e desequilíbrios musculares.
Muitos programas de prevenção de lesão no futebol são facilmente encontrados por meio de uma rápida pesquisa na internet. O mais conhecido deles é o FIFA 11+, desenvolvido pelo Departamento Médico da FIFA (F-MARC). São programas baseados em séries de exercícios que buscam corrigir os desequilíbrios mais comuns entre os jogadores de futebol e que estão associados às lesões mais preocupantes em termos de frequência e gravidade.
Estudos demonstram que o FIFA 11+ pode levar a uma redução de até 50% de lesões graves como a do Ligamento Cruzado Anterior ou as lesões musculares. Seu maior mérito é ser um programa fácil de ser difundido, já que não depende de avaliações específicas ou recursos financeiros por parte dos atletas.
No caso de atletas de alto rendimento, porém, os exercícios preventivos devem idealmente ser planejados individualmente, com base em testes clínicos ou exames como a dinamometria manual ou isocinética. Estas mesmas avaliações, quando possível, devem ser feitas também por atletas amadores, em clínicas especializadas. Isso porque as necessidades podem variar bastante, mesmo considerando atletas no mesmo esporte e no mesmo nível de competição.
Gerenciamento da carga de treino
O futebol de alto rendimento está trabalhando sempre nos limites entre desgaste e recuperação. A carga excessiva aumenta o nível de fadiga, e isso prejudica o desempenho e leva a um maior risco para a maior parte das lesões relacionadas ao esporte.
Diversos métodos são utilizados para o monitoramento de carga no futebol, incluindo escalas de fadiga, medidas da frequência cardíaca ou mesmo testes bioquímicos. Estes dados devem ser utilizados para ajustes no volume ou intensidade dos treinos bem como dos períodos de recuperação, treinamento e competição.
No caso de atletas recreativos, o monitoramento tende a ser menos rígido, mas muitas vezes uma simples consulta e avaliação podem indicar uma carga inadequada de treinamento.
Aquecimento pré-treino ou jogo
O início da prática esportiva é outro momento em que o atleta está mais vulnerável a lesões. Isso acontece quando o corpo é levado de uma fase de inatividade diretamente para um exercício em alta intensidade.
Este risco pode ser minimizado pelo aquecimento pré-treino, ou jogo, o qual permite o aumento gradual do esforço demandado à musculatura e às articulações. A maioria das sessões de aquecimento tem duração entre 20 e 30 minutos e inclui uma combinação de exercícios cardiovasculares e exercícios de força.
O aquecimento pré-treino é projetado para aumentar a circulação sanguínea, aumentar a temperatura corporal, elevar a frequência cardíaca e preparar o corpo para movimentos bruscos no jogo que se seguirá. Manter os músculos aquecidos ajuda na melhora do desempenho e evita lesões agudas, principalmente as lesões musculares.
Monitoramento do retorno esportivo
O retorno esportivo após férias (pré-temporada) ou após lesão é um momento especialmente suscetível à ocorrência de novas lesões. O afastamento de um mês das atividades físicas pode levar a até 30% de perda da força muscular. Caso o atleta retorne em carga máxima após este período, sem um processo de adaptação, o risco de lesão passa a ser inaceitavelmente elevado.
Recomenda-se que, em ambas as situações, o aumento da carga de treino seja de não mais do que 15% por semana, ou até menos, a depender dos dados de monitoramento de carga.
Reconhecimento precoce de lesões
O reconhecimento precoce de lesões deve ser entendido também pelo lado preventivo. Em algumas situações isso pode evitar o agravamento da lesão, como no caso da concussão cerebral, que decorre de um golpe contra a cabeça e é comum no futebol, em consequência de traumas da cabeça contra cabeça, cotovelo ou pé do adversário ou de cabeça contra a bola ou trave.
O reconhecimento desta lesão é fundamental, uma vez que, continuando em campo, um segundo golpe na cabeça poderia agravar bastante a lesão.