Para entendermos o que é a lesão SLAP, é necessário abordar um pouco da anatomia do ombro. Vamos lá: esse tipo de lesão ocorre na parte superior do “lábio” da glenoide (labrum), um anel de cartilagem de formato oval que envolve toda a borda da cavidade glenoidal – que, por sua vez, funciona como ponto de articulação de duas estruturas ósseas: a escápula e a cabeça do úmero (osso do braço).
A principal função do lábio da glenoide é dar estabilidade ao ombro, evitando que ele se desloque com os movimentos. A parte superior do lábio da glenoide serve também de origem para o músculo bíceps braquial, músculo do braço.
Nos movimentos de rotação externa do braço (preparo ou armação do arremesso), o tendão da cabeça longa do bíceps realiza também um movimento de rotação, sem consequências em um ombro saudável. Mas, no ombro com lesão SLAP, esse giro pode “descascar” o lábio glenoidal e provocar dor e sensação de fraqueza no ombro.
De início, a dor ocorre durante o movimento, mas, com o passar do tempo, pode evoluir para uma inflamação (tendinopatia) do bíceps, gerando dor também durante o repouso.
O nome da lesão, “SLAP”, vem da sigla em inglês para “Superior Labral Tear from Anterior to Posterior”, ou, em tradução livre, simplesmente “Lesão do Lábio Superior”.
A lesão SLAP é uma das lesões que caracterizam a síndrome do ombro do arremessador e pode ocorrer:
- Por um trauma no ombro (um acidente automobilístico, uma queda com o braço estendido etc.);
- Nas luxações do ombro;
- Por excesso de força, puxando o braço, como ao carregar um objeto pesado;
- Após movimentos repetitivos semelhantes ao arremesso, em que o braço fica acima da cabeça.
Em muitos casos de lesões SLAP, há ainda o fator degenerativo. Muitas vezes, uma lesão SLAP é resultado do desgaste do labrum ao longo do tempo, como um processo normal do envelhecimento, especialmente em paciente acima dos 40 anos.
Quais são os sintomas da lesão do lábio superior (lesão SLAP)?
De modo geral, os sintomas da lesão SLAP são semelhantes a outras alterações no ombro e incluem:
- Estalos ou sensação de “travamento”;
- Dor para realizar alguns movimentos do braço (erguer o braço acima da cabeça ou alcançar as costas com a mão, por exemplo) e ao carregar objetos;
- Dor durante as atividades do dia a dia: lavar louça, varrer a casa, tomar banho (levantar o braço para lavar os cabelos), deitar sobre o ombro etc.;
- Perda da força do ombro e, em atletas de modalidades que envolvem arremessos ou lançamentos, sensação de “braço morto”, como se ele não respondesse a estes movimentos;
- Instabilidade no ombro e sensação de que vai “sair do lugar”.
Como é o diagnóstico da lesão SLAP?
De modo geral, o diagnóstico é feito com base no histórico do paciente, pelo exame físico e também por exames de imagem. É até possível realizar diversos testes em um exame físico, mas eles não são específicos para a lesão SLAP. Além disso, o fato de a lesão SLAP estar associada muitas vezes a outras lesões no ombro (como lesões do manguito rotador e da cartilagem, por exemplo) pode dificultar o diagnóstico.
Por essa razão, é necessário um exame de ressonância magnética e, em alguns casos, com a injeção de contraste intra-articular para aumentar a sensibilidade do exame (artrorressonância magnética).
Quais são os tipos de lesão SLAP?
Existem 4 classificações de lesão SLAP:
- Tipo I, é uma lesão degenerativa, mais comum e menos grave, em que ocorre apenas uma leve alteração no lábio superior. Em pacientes jovens, podem acontecer associadas às lesões do manguito rotador, ou ocorrem em pacientes sedentários com mais de 50 anos. Em geral, não chegam a causar dor e, quando exigem tratamento, este pode não envolve cirurgia;
- Tipo II, é o tipo de lesão SLAP mais comum em atletas. É também uma lesão degenerativa, mas desta vez com a desinserção completa do lábio superior junto com o bíceps, causando uma instabilidade;
- Tipo III, caracteriza-se pela lesão em “alça de balde” do lábio superior, mas com o restante do lábio e mais a inserção do bíceps firmes;
- Tipo IV: também é uma lesão em “alça de balde”, mas que se prolonga até o tendão do bíceps, com ambos entrando na articulação.
Destas, as lesões potencialmente mais problemáticas são aquelas em que o lábio se solta do osso e também aquelas em que o tendão do bíceps é lesionado. Nestes casos, as lesões SLAP podem ser dolorosas e restringir atividades, especialmente as que envolvem movimentos com o braço acima e atrás da cabeça (posição do arremesso).
Como é o tratamento da lesão SLAP?
Pacientes diagnosticados com a lesão SLAP mas que não apresentam sintomas ou limitações, não é necessário um tratamento. Em alguns pacientes, o médico poderá indicar o uso de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, por um curto período.
Além disso, pode ser necessária a aplicação de gelo para controle da inflamação e da dor. Na fase inicial, equipamentos de eletrotermofototerapia podem ajudar, mas o melhor é estimular os músculos e tecidos da articulação com exercícios indicados por um especialista.
Já em pessoas que praticam esportes e, principalmente, em atletas de modalidades que envolvem arremesso ou lançamento, a lesão SLAP tende a produzir uma limitação funcional.
Com isso, ocorre uma redução do rendimento no esporte, causado pela dor e pela perda de força no ombro. Nestes casos, o tratamento da lesão SLAP deve começar com um bom programa de reabilitação (fisioterapia), com os seguintes objetivos:
- Aliviar contraturas do ombro;
- Melhorar e reequilibrar a força dos tendões;
- Ajudar na redução de processos inflamatórios;
- Corrigir gestos esportivos para evitar a reincidência da dor.
É importante dizer que a reabilitação não é capaz de corrigir a lesão do lábio superior, pois esta região não cicatriza sozinha. Mesmo assim, na maioria dos casos, ela é uma medida suficiente para reduzir a dor e os sintomas da lesão SLAP.
Como é o tratamento cirúrgico da lesão SLAP?
Em casos bem menos frequentes, quando a reabilitação não apresenta bons resultados ou nos casos de dor recorrente, o tratamento cirúrgico poderá ser indicado pelo médico. Nos casos de tratamento cirúrgico da luxação do ombro, o SLAP pode ser corrigido na mesma operação.
Basicamente, existem duas opções de cirurgia para o tratamento da lesão SLAP, ambas por artroscopia (técnica menos invasiva). São elas:
- Reparo labral, realizado com a colocação de âncoras de sutura (pontos cirúrgicos) que “prendem” novamente o lábio superior na cavidade glenoidal. Embora apresente resultados satisfatórios, o tempo de recuperação é prolongado e envolve um risco de rigidez, dor residual e limitação do movimento de rotação externa do ombro;
- Tenodese do bíceps, técnica que vem sendo mais utilizada atualmente, por apresentar melhores resultados, especialmente em pessoas acima dos 35 anos. Nesta técnica cirúrgica, o tendão do bíceps é cortado do lábio superior da glenoide (seu local original) e reinserido no úmero através de âncoras ou pequenos parafusos.
Estudos recentes têm mostrado menor risco de rigidez, maior chance de melhora da dor e melhor restabelecimento do controle neuromuscular do ombro com a tenodese do bíceps, na comparação com a técnica do reparo labral. No entanto, nos pacientes que são atletas de alta performance, existe um risco pequeno de perda de potência no arremesso ou lançamento.
Como é a recuperação pós-cirúrgica da lesão SLAP?
Para uma boa cicatrização, o uso de tipoia deverá ser feito por um curto período, estabelecido pelo médico. O controle do inchaço poderá ocorrer com aplicação de gelo. Depois, o paciente terá que iniciar a reabilitação, com retorno às atividades entre 3 e 7 meses, dependendo da evolução de cada paciente e de sua demanda física.
Numa primeira fase, o médico ou o fisioterapeuta devem esclarecer o paciente sobre movimentos a serem evitados de início, como trazer o braço lateralmente para trás ou rodá-lo para fora, por exemplo – para não prejudicar a correta cicatrização.
Além disso, o profissional responsável pela reabilitação também irá orientar o paciente sobre os exercícios de ganho de arco de movimento e de fortalecimento muscular. O acompanhamento profissional é fundamental na condução dos exercícios e na progressão das cargas, para garantir segurança ao processo de reabilitação.
No caso dos atletas, com a evolução dos exercícios, ele poderá, aos poucos, iniciar atividades mais similares àquelas realizadas em sua modalidade esportiva, até que seja possível o retorno total ao esporte.
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