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23 de março de 2021S2 – eritropoetina
23 de março de 2021Agentes anabolizantes
Agentes anabolizantes são a causa mais comum de doping. As principais substâncias nesta classe são os esteroides anabolizantes.
Esteróides anabolizantes são derivados sintéticos do hormônio masculino Testosterona. Eles são divididos em dois grupos: endógenos e exógenos.
- – Os anabolizantes endógenos são substâncias produzidas naturalmente pelo corpo. O principal deles é a testosterona, responsável pelos efeitos androgênicos e anabólicos observados no corpo masculino. Pró-hormônios ou metabólitos da testosterona, incluindo a desidroepiandrosterona (DHEA), androstenediona, androstenediol e dihidrotestosterona (DHT) também estão incluídos na lista de substâncias proibidas. A diferenciação entre substâncias produzidas naturalmente pelo corpo e aquelas resultantes da administração exógena é necessária para caracterizar o doping nestes casos.
- – Esteroides anabolizantes exógenos são compostos sintéticos que não são produzidos naturalmente pelo corpo humano, incluindo a metandienona, estanozolol e o clostebol.
Efeitos dos esteroides anabolizantes
Os efeitos da testosterona podem ser divididos em efeitos anabolizantes e efeitos androgênicos.
- – Os efeitos anabólicos estão associados à construção de proteínas nos músculos e ossos, levando a ganho de força e hipertrofia muscular.
- – Entre os efeitos androgênicos incluem-se o engrossamento da voz, crescimento de pelos na região púbica, axilas e face, acne e comportamento agressivo.
Ainda que novas substâncias busquem potencializar o efeito anabólico e minimizar o efeito androgênico, estes efeitos não podem ser totalmente separados.
Efeitos colaterais
O uso indevido de esteroides anabolizantes tem sido relacionado a uma variedade de efeitos colaterais, a depender da substância utilizada, dose, frequência de uso, gênero e idade de início do uso. Alguns destes efeitos são reversíveis, outros não. Os principais efeitos adversos incluem:
- – Efeitos endócrinos: atrofia testicular, esterilidade, ginecomastia em homens, virilização (em mulheres
- – Efeitos cardiovasculares: enfarto do miocárdio, hipertensão, trombose, morte cardíaca súbita,
- – Efeitos psiquiátricos: ansiedade, depressão, hostilidade, agressividade, psicose
- – Efeitos no fígado: tumor, função hepática prejudicada
- – Efeitos nos ossos: retardo de crescimento linear em crianças)
- – Efeitos na pele: acne
- – Efeitos na voz: aprofundamento da voz nas mulheres
Detecção dos esteroides anabolizantes
A detecção de esteroides anabolizantes no controle de doping é feita pelo teste de urina, sendo que a estratégia para a identificação do uso de anabolizantes exógenos e endógenos é bastante diferente. Para os exógenos, a simples identificação da substância ou de um de seus metabólitos na amostra é suficiente para gerar um evento analítico adverso.
No caso dos endógenos, além da detecção do composto na urina, a origem exógena precisa ser demonstrada para declarar um evento analítico adverso, o que é feito com base nas concentrações do composto e seus metabólitos na urina.
A detecção do uso de testosterona exógena é feita a partir da mensuração da proporção de testosterona em relação à epitestosterona, outro composto também produzido naturalmente pelo corpo. Em média, as pessoas têm uma relação testosterona/epitestosterona (relação T/E) de 1, sendo que 99% da população possui T/E menor do que 6. O uso de testosterona faz com que a testosterona aumente, mas não a epitestosterona, de forma que a relação T/E também aumenta. O Comitê Olímpico Internacional adotou um valor de T/E superior a 10 como indicativo do uso exógeno e superior a 4 como suspeito, sendo indicado a investigação nestes casos.
As Diretrizes da WADA descrevem duas abordagens diferentes frente a um T/E suspeito:
- – A primeira abordagem determina a relação T / E em pelo menos três amostras adicionais. Podem ser amostras que foram previamente coletadas e analisadas ou testes futuros sem aviso prévio. Se a variação entre os resultados for inferior a 30% para homens e 60% para mulheres, é indicativo que a razão T / E está naturalmente aumentada. Variações acima destes valores são indicativos de uso exógeno.
- – A segunda abordagem se baseia em diferenças sutis na estrutura da testosterona endógena e exógena, o que é feito por meio de um método denominado de Espectrometria de Massa de Razão Isotópica (IRMS). Este método é inviável tecnicamente e financeiramente de ser feito como rotina, mas pode ser usado em casos suspeitos.
Anabolizantes mais utilizados
Segundo o relatório da WADA, em 2019 ocorreram 1825 resultados analíticos adversos em decorrência do uso de agentes anabolizantes (Categoria S1), o que representa 44% de todos os casos de doping naquele ano. A tabela abaixo mostra os casos para cada tipo de anabolizante.
S1 – Agentes anabolizantes
Substância | classe | Eventos Analíticos Adversos |
Estanozolol | S1 | 267 |
clembuterol | S1 | 199 |
Drostanolona | S1 | 163 |
19-norandrosterona | S1 | 162 |
Testosterona compatível com origem exógena | S1 | 147 |
Boldenona | S1 | 120 |
Metandienona | S1 | 113 |
Oxandrolona | S1 | 92 |
Dihidroclorometiltestosterona | S1 | 90 |
Metenolona | S1 | 80 |
enobosarmo (ostarina) | S1 | 74 |
Trembolona | S1 | 69 |
LGD-4033 (ligandrol) | S1 | 62 |
Mesterolona | S1 | 38 |
Metasterona | S1 | 31 |
Clostebol | S1 | 28 |
metiltestosterona | S1 | 14 |
Oximetolona | S1 | 12 |
Tibolona | S1 | 12 |