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Diferenças das fraturas na criança e no adulto
As características do osso infantil influenciam diretamente nas características das
fraturas que acontecem em crianças. De modo geral, as crianças tendem a apresentar
fraturas incompletas, devido à maior elasticidade do osso. Fraturas cominutivas, nas
quais o osso se quebra em vários pedaços, são incomuns.
O trauma necessário para provocar uma fratura na criança nem sempre é violento. A
placa de crescimento ósseo é um ponto de fragilidade que favorece a ocorrência de
fraturas e um tropeço seguido de queda ao chão pode ser suficiente para isso.
Por outro lado, o periósteo, que é uma membrana que envolve o osso, é mais
resistente e tende a ser preservada após uma fratura. O periósteo facilita a
recolocação do osso no local original e ajuda a preservar a estabilidade da fratura, o
que permite que grande parte das fraturas sejam tratadas sem cirurgia.
Tipos de fraturas específicos das crianças
Descolamento epifisário: são fraturas que atingem a placa de crescimento e, por isso, têm potencial para
comprometer o crescimento da criança.
A placa epifisária separa duas regiões do osso: a epífise (área próxima da articulação) e a metáfise (mais distante da articulação). Ela é
composta por cinco zonas:
- Zona germinativa: formada por células indiferenciadas, que iniciarão o processo
de “diferenciação” até a formação dos osteócitos (células do osso); - Zona proliferativa: caracterizada pela proliferação dos condrócitos (células da
cartilagem); - Zona hipertrófica: as células passam por um processo de hipertrofia;
- Zona de calcificação: a matriz cartilaginosa começa a ser calcificada. Os
condrócitos (células cartilaginosas) morrem; - Zona de ossificação: células ósseas penetram na cartilagem calcificada e a
substituem por tecido ósseo mineralizado.
As fraturas fisárias acometem, principalmente, a zona hipertrófica, que é a área mais
frágil da cartilagem de crescimento. Eventualmente, o traço de fratura pode correr
para as outras zonas. Dessa forma, as fraturas fisárias são classificadas em cinco tipos:
- Tipo 1: corre de um lado ao outro do osso pela zona hipertrófica;
- Tipo 2: é a fratura mais comum, sobretudo após os 10 anos de idade. A fratura
inicia-se horizontalmente pela zona hipertrófica e, em seguida, sobe em
direção à metáfise; - Tipo 3: o traço origina-se horizontalmente pela zona hipertrófica e, depois,
corre para a epífise; - Tipo 4: traço vertical da fratura inicia na epífise, cruza a fise de crescimento e
sobe para a metáfise; - Tipo 5: trauma axial que leva à compressão da fise. Muitas vezes, não se
observa a fratura propriamente dita nos exames de imagem, mas há o risco de
comprometimento do crescimento normal do osso.
Tal classificação é de extrema importância porque as fraturas que acometem a zona
germinativa (tipos 3, 4 e 5) apresentam potencial para interferir no crescimento ósseo
e causar deformidades ou mau alinhamentos no joelho. Por essa razão, elas exigem o
perfeito posicionamento entre os fragmentos das fraturas, enquanto nas fraturas que
não cruzam a zona germinativa (tipos 1 e 2) é aceitável algum grau de desalinhamento.
Como regra geral, as fraturas do tipo 1 e 2 apresentam bom prognóstico com o
tratamento não cirúrgico. Já as fraturas do tipo 3 e 4 costumam ter indicação cirúrgica
e as do tipo 5, ainda que tratadas de forma não cirúrgica, apresentam prognóstico
ruim.
Fratura em “galho verde”:
É um tipo de fratura incompleta do osso, em que um lado do osso permanece íntegro.
Este tipo de fratura decorre da maior elasticidade do osso, que lembra o que acontece
quando tentamos quebrar um galho verde.
De forma contrária, a fratura em adultos tende a ocorrer de forma similar à quebra de
um galho seco, que se parte ao meio e eventualmente em mais do que dois
fragmentos.
São fraturas com bom prognóstico com o tratamento não cirúrgico.
Fratura em torus:
Ao invés de se romper de um lado a outro, o que se observa é um “amassado” no osso.
O periósseo permanece íntegro. São fraturas muito comuns principalmente no punho.
As fraturas em torus são bastante estáveis e se resolvem bem com curto período de
imobilização.
Fratura por avulsão:
Devido à apófise de crescimento do osso, este se torna o ponto mais frágil do conjunto
músculo-tendão-osso. Se nos adultos as lesões nos músculos e tendões são mais
comuns, nas crianças as avulsões (arranchamento) óssea tendem a acontecer antes
que o músculo ou tendão se rompam.
Tratamento das fraturas em crianças
A maior parte das fraturas em crianças tende a ser tratada de forma não cirúrgica. Isso
ocorre por diversos motivos:
- O periósseo, sendo mais espesso e mais elástico, permanece íntegro ou
parcialmente íntegro na maior parte das fraturas. Isso ajuda a recuperar o
alinhamento adequado dos ossos e, uma vez obtido este bom alinhamento,
também auxilia a preservá-lo durante o tratamento; - A maior parte das fraturas é simples ou incompleta;
- O tempo para a fratura “colar” (consolidar) é menor;
- Em alguns casos, pequenos desalinhamentos podem ser aceitos, pois tendem a
ser corrigidos com o crescimento.
Algumas situações exigem o tratamento cirúrgico, de forma que é importante a
avaliação por um ortopedista especialista.