Lesões no Ballet

Médico ortopedista especialista em joelho e médico do esporte

Vista como esporte por uns e como arte por outros, a dança tem muito dos dois. O corpo é fisicamente exigido de formas bastante peculiares e incomuns a outros esportes. O bailarino precisa de equilíbrio, consciência corporal, força, estabilidade e flexibilidade para que consiga fazer os movimentos de uma forma tecnicamente correta e, para isso, precisam de uma preparação física específica.

Lesões traumáticas são pouco comuns na prática do ballet. A maior preocupação é com lesões decorrentes de movimentos torcionais, entorse do tornozelo, a lesão do ligamento Cruzado Anterior ou lesões musculares.

Lesões por sobrecarga ou esforços repetitivos são muito mais frequentes. Estão, como regra geral, associadas a uma limitação física (fraquezas musculares específicas, condicionamento físico inadequado) ou a deficiências técnicas dos gestos da dança em sí.

Entre as características mais marcantes, e que devem ser levadas em consideração no momento de se avaliar uma lesão em um dançarino, incluem-se:

  • Exercícios de ponta;
  • Exercícios com a perna rodada para fora (En Dehors);
  • Grande amplitude de movimentos em todas as articulações;
  • Idade precoce com que crianças iniciam a prática.

Risco em diferentes tipos de bailarinos

Um grande bailarino é resultado de um longo período de dedicação e entrega que, em geral, começa já nos primeiros anos de vida. A maioria dos bailarinos profissionais já gostava de se exibir em frente à TV, ao ouvir uma música ou nas festas de família quando criança. Esse gosto precoce pela dança é que leva muitos pais a procurarem escolas de ballet no bairro. A dança costuma ser a primeira atividade formal na vida de muitas crianças, sendo praticada de forma lúdica e sem maiores sobrecargas ou riscos de lesão.

O aumento no volume e intensidade dos ensaios, já a partir da pré-adolescência, faz com que as lesões se tornem uma preocupação. A dança tem como característica uma especialização bastante precoce, e é comum que crianças de 10 ou 11 anos estejam sendo submetidos a exaustivos ensaios diariamente. Saber avaliar as implicações da dança sobre um esqueleto ainda imaturo é fundamental para proteger a saúde destas pequenas bailarinas.

A fase do estirão do crescimento na adolescência é um período que envolve preocupação extra em relação às lesões por sobrecarga, devido às grandes mudanças corporais observadas nesta fase da vida. A preocupação é maior especialmente para aquelas meninas que apresentam um estirão do crescimento mais tardio, uma vez que tendem a fazer aulas junto com colegas da mesma idade, mas com desenvolvimento físico mais avançado.

Para aqueles que dançam em alta performance ou mesmo profissionalmente, o risco de lesões por sobrecarga é alto, sendo importante observar os cuidados recomendados para outros atletas profissionais.

Finalmente, a dança para pessoas na meia idade ou entre idosos torna-se um meio de se manter ativo e cuidar da saúde. A dança traz uma série de benefícios a todos os tipos físicos e faixas etárias, desde que respeitados certos cuidados fundamentais. Não é preciso corresponder à imagem dos bailarinos profissionais, de corpos extremamente magros, para tirar proveito da dança.

Devemos por fim considerar as especificidades dos bailarinos homens. Devido à predominância das mulheres na dança, muitas vezes a atenção com os homens é mais limitada. Como regra geral, professores estão muitos mais preparados para orientarem as mulheres do que os homens e isso pode fazer com que os bailarinos não tenham todo o seu potencial explorado, além de colocá-los sob maior risco de lesão.

Ballet na pré-adolescência e adolescência

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Ballet adulto

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Ballet para Homens

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Fatores de risco para lesões

O ballet é uma atividade que envolve diversas especificidades que o diferem de outros atletas, incluindo os exercícios de ponta, exercícios em dehors e flexibilidade extrema. As sapatilhas de ponta também podem estar associadas às lesões e devem ser consideradas na avaliação da bailarina. A busca pelo peso extremamente magro também deve ser considerada na avaliação de certos tipos de dores e lesões. A demanda energética do bailarino é elevada e, quando a perda de peso é baseada em dietas muito restritivas, o desempenho é prejudicado e o risco de lesões aumenta.

A tríade da mulher atleta, caracterizada pela associação de baixa ingesta calórica, osteoporose e amenorreia, é uma preocupação, e está frequentemente associada ao desenvolvimento de fraturas por estresse em bailarinos.

Exercícios de ponta

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Sapatilha de ponta

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Posição en dehors

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Flexibilidade do bailarino e associação com lesões

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Controle de peso entre bailarinos

Bailarinos estão sempre buscando um controle extremamente rígido do peso, eventualmente feitos por meio de “dietas milagrosas” e sem o acompanhamento de um profissional especializado. Transtornos alimentares associados à prática do ballet são frequentes, e algumas das lesões eventualmente observadas no bailarino podem ser consequência disso.

A tríade da mulher atleta, caracterizada pela associação de baixa ingesta calórica, osteoporose e amenorreia, é uma preocupação, e está frequentemente associada ao desenvolvimento de fraturas por estresse em bailarinos.

Transtornos alimentares no ballet

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Principais lesões na dança

As lesões na dança estão na maior parte dos casos associadas à sobrecarga dos movimentos repetitivos. A avaliação de todos os fatores de risco descritos acima é fundamental para que, além de tratar a lesão, o bailarino seja capaz de retornar para a sua atividade de forma segura e com menor risco de recorrência da lesão.

O ballet é uma atividade completa, que usa o corpo como um todo e, dessa forma, qualquer articulação pode ser acometida por lesões. Joelhos, pé e tornozelo, coluna e quadril são, nesta sequência, as articulações mais acometidas. Lesões nos membros superiores são relativamente pouco comuns entre as mulheres, mas são fonte de preocupação nos homens que executam muitos movimentos em que carregam suas parceiras.

Lesões no joelho no ballet

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Lesões do pé e tornozelo no ballet

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Lesões na coluna de bailarinos

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Lesões no quadril

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Avaliação médica do bailarino

O bailarino deve ser visto do ponto de vista médico como qualquer outro atleta. A avaliação médica deve buscar identificar os fatores de risco para as principais lesões e problemas de saúde rotineiramente vistos entre os bailarinos, sejam eles decorrentes da prática da dança ou não.

No caso de jovens bailarinas, é importante que se alinhe qual o interesse da bailarina com a dança e sua rotina de ensaios e apresentações. Exercícios de ponta, por exemplo, exigem um exaustivo trabalho de preparação física e técnica pelo qual nem todas as meninas estão dispostas a passar.

O ballet pode muito bem ser praticado por alguém que não busca a performance e, nestes casos, não há porque ir para a ponta. Existem escolas com um viés mais para a “alta performance” e, eventualmente, esta escola pode não ser a melhor escolha para alguém que não tenha maiores pretensões com a dança.

A bailarina deve também ser avaliada quanto ao seu estágio de desenvolvimento físico e sinais da puberdade. A mobilidade e força nas articulações bem como a técnica para certos exercícios deve ser avaliada por um fisioterapeuta ou preparador físico com conhecimento técnico da dança.

O bailarino deve ser questionado quanto a problemas musculoesqueléticos atuais ou passados. Muitas vezes o bailarino considera a dor como “um sacrifício normal pelo qual todo o bailarino precisa passar para dançar em alta performance”. Ainda que de fato o ballet envolva risco significativo para lesões e dores, muito pode ser feito para se minimizar as queixas e isso é fundamental inclusive ao se pensar em melhora na performance.

Como parte de uma avaliação de rotina, o bailarino deve ser questionado também quanto a outros problemas de saúde, em especial da saúde cardiovascular. Uma avaliação cardiológica de rotina é indicada para todos os atletas em busca de rendimento e isso não é diferente para o bailarino.

Existem problemas cardiológicos sérios que podem acometer pessoas aparentemente saudáveis, mas que podem colocar o bailarino sob risco de complicações graves. Além disso, queixas como palpitações ou fadiga excessiva não devem ser menosprezadas.

Existem problemas cardiológicos sérios que podem acometer pessoas aparentemente saudáveis, mas que podem colocar o bailarino sob risco de complicações graves. Além disso, queixas como palpitações ou fadiga excessiva não devem ser menosprezadas.

Tratamento das lesões na dança

A maior parte das lesões nos bailarinos, como discutido acima, está associada à sobrecarga provocada pela dança. Independente da lesão, o tratamento deve seguir uma sequência de eventos em comum.

Inicialmente, é preciso que se controle o sintoma, principalmente a dor. Fisioterapia e outras medidas analgésicas, medicamentosas ou não medicamentosas, podem ser consideradas neste momento. Não adianta querem fortalecer e melhorar a mecânica do paciente enquanto o movimento provocar dor. O afastamento temporário da dança pode ser necessário em alguns casos, em outros podem ser necessárias algumas restrições de movimentos específicos e, em outros, apenas uma redução na frequência e duração dos ensaios.

O passo seguinte é corrigir eventuais deficiências ou desequilíbrios de força. As escolas de ballet ainda apresentam uma resistência bastante significativa em incluírem um trabalho de preparação física na rotina dos bailarinos e isso pode ter o seu preço. Muitos não fazem trabalhos paralelos de força por medo de uma estética mais musculosa. Da mesma forma que atletas de qualquer outra modalidade, não tem como se pensar em uma rotina exaustiva com alta carga semanal de dança sem um trabalho paralelo de preparação física.

Uma vez que a dor esteja controlada e deficiências musculares corrigidas, um passo extremamente importante é avaliar eventuais falhas técnicas que possam contribuir para as lesões. Cada tipo de lesão está associada a deficiências técnicas específicas e é fundamental que estas deficiências sejam identificadas e corrigidas por um fisioterapeuta ou preparador físico com conhecimento da rotina do bailarino.

Infelizmente, muitos médicos ignoram esta última etapa e liberam precocemente o bailarino para retornar para sua rotina normal de ensaio, deixando o bailarino mais vulnerável para a recorrência da lesão.

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